Apresentação do decorrer da reunião pelo padre Henrique Noronha Galvão, que faz parte deste “Círculo de alunos” do Papa Bento XVI.
Reunião do “Círculo de alunos” (Schülerkreis) do Papa Bento XVI
Castel Gandolfo, de 30.08 a 03.09 de 2012
O tema da reunião foi: “Resultados e questões do ecumenismo, em diálogo com o protestantismo luterano e o anglicanismo; com referência particular ao livro do Cardeal Walter Kasper, Harvesting the Fruits. Aspects of Christian Faith in Ecumenical Dialogue, London-New York 2009”.
Houve dois oradores luteranos:
O Prof. Dr. Theodor Dieter, Diretor do Instituto Ecuménico de Estrasburgo, cuja comunicação teve o título: “Da separação à comunhão. Diálogo católico-luterano”. Começou por citar uma referência de Joseph Ratzinger, no final do Vaticano II, à decisiva abertura ecuménica realizada pelo concílio. O então jovem professor de Tubinga participava num diálogo católico-luterano promovido precisamente pelo Instituto de que o orador é agora Diretor. Mas se o Concílio Vaticano II abriu a Igreja católica como um todo à necessidade do diálogo ecuménico, também da parte do protestantismo luterano uma interpretação renovada do pensamento de Lutero a predispôs para esse mesmo diálogo. Para além dos resultados importantes que já se alcançaram, por exemplo no entendimento da justificação do pecador pela fé, é indispensável igualmente adquirir lucidez sobre todas as questões que ainda nos dividem. Mas o objetivo final do esforço ecuménico mantém-se sempre a comunhão plena entre as Igrejas.
O Bispo emérito Prof. Dr. Ulrich Wilckens mostrou como da questão inicial da Reforma, a justificação, se passou através de uma teologia influenciada pelo Iluminismo nos sec.s XVII e XVIII para a questão da liberdade como emancipação da razão. Motivo dessa glorificação da razão foram as guerras entre as diversas confissões religiosas que desacreditaram a fé cristã, dando origem a um secularismo em que o próprio Deus acabou por estar ausente, com a trágica consequência de o homem deixar de encontrar em Deus a sua salvação. Só uma nova comunhão das Igrejas, que confessem em conjunto a sua culpa pela situação atual, poderá abrir o mundo de hoje à presença salvadora do Deus de Jesus Cristo.
O terceiro orador foi o atual Bispo católico de Genebra, Charles Morerod, antigo Professor e Reitor na Pontifícia Universidade de S. Tomás de Aquino (Angelicum) de Roma, que apresentou o balanço provisório do diálogo entre anglicanos e católicos. Se esse diálogo serviu decisivamente para um melhor conhecimento do muito que têm em comum, também é certo que através dele se tem tomado mais consciência das divergências que de facto existem. Estas, aliás, agudizaram-se nos últimos tempos com a introdução, no seio do anglicanismo, do ministério feminino no presbiterado e episcopado, assim como da nomeação episcopal de um homossexual assumido, vivendo com o seu companheiro. A acentuação da divisão daí resultante não atingiu apenas o diálogo com a Igreja católica, mas as próprias comunidades anglicanas entre si, dificultando assim ainda mais o objetivo da unidade. Tais dificuldades, porém, não podem ser motivo para esmorecer na procura da comunhão eclesial.
Durante a discussão acentuou-se que é essencial à fé cristã a preocupação ativa pela unidade, no sentido do cap. 17 do evangelho de S. João, para além dos sucessos ou insucessos concretos do diálogo. Um diálogo que não tenha apenas como objetivo uma união na verdade mas também, simultaneamente, um estreitar dos laços de caridade entre todos os cristãos. Foi nesse sentido, igualmente, a intervenção conclusiva do Papa.
Em todo o decorrer da reunião do “Círculo de alunos” de Bento XVI esteve também presente o Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, tendo presidido à Eucaristia no sábado, dia 1 de setembro. O próprio Papa, como é habitual, presidiu à Eucaristia no domingo, dia 2.
Padre Henrique Noronha Galvão