Retratos de «Um Papa (In)esperado»

O livro «Um Papa (In)esperado», do jornalista António Marujo, que identifica alguns “sinais” do que poderá o pontificado de Bento XVI, foi ontem apresentado em Lisboa. Na obra são analisadas as posições tomadas e das prioridades anunciadas pelo Papa ao longo deste primeiro ano de pontificado, a partir dos seus discursos, mensagens e homilias. No prefácio, o jornalista do “Público”, especialista em informação religiosa, explica o título da obra confessando que o inesperado começou há um ano, aquando do conclave que se iniciou a 19 de Abril para a eleição do novo líder da Igreja Católica, sucessor de João Paulo II. O Cardeal Joseph Ratzinger não era a opção do autor entre os 115 elegíveis, que esperava antes a escolha “mais natural” de um representante da América Latina, porque “ali vivem actualmente cerca de 500 milhões de católicos (quase metade dos 1.100 milhões do mundo inteiro)”. Na obra, António Marujo ressalva que este livro não tem como objectivo fazer um balanço de um ano de exercício do Papa, nem de tentar adivinhar como será a sua continuação. É antes uma “tentativa modesta de compor um retrato que identifique os sinais mais evidentes, as constantes que é possível enunciar, o estilo reservado e discreto, os textos marcantes, os casos polémicos que também já aconteceram”. “Menos gestos, mais palavras” é uma forma simples de sintetizar as ideias apresentadas pelo autor. Dos textos e discursos apresentados por Bento XVI neste período, António Marujo considera possível “tentar perscrutar o que pode ser o pontificado”, identificando alguns sinais mais evidentes prenunciadores do futuro da liderança da Igreja Católica. O relançamento do ecumenismo, a promoção do diálogo inter-religioso, maior cuidado na nomeação de Bispos e de avalizar as canonizações, que foram muito numerosas com João Paulo II, são algumas das medidas esperadas neste pontificado, segundo a análise do autor. António Marujo avança ainda que a hipótese da convocação de um novo concílio do Vaticano “parece fora das perspectivas” de Bento XVI, pretendendo antes “prosseguir o compromisso de concretização do Concílio do Vaticano II”, nas palavras do próprio. Considera ainda, no livro, que de Bento XVI “não virão, seguramente, excessivas aberturas em temas controversos como a moral individual e familiar, em questões disciplinares como o celibato ou em debates como o papel da mulher na Igreja”. Ao longo destas quase 100 páginas, onde é visível a sensibilidade do autor em relação aos vários temas tratados, somos conduzidos pelos principais pronunciamentos do Papa e, apesar de ser ainda muito cedo para “tentar adivinhar” o que será o pontificado, fica já uma ideia muito clara a respeito do que tem sido. Nascido em 1961, António Marujo tem várias obras publicadas na área da religião. É jornalista do “Público” desde a sua fundação, em 1989, tendo trabalhado anteriormente no “Diário de Lisboa” e no “Expresso”.

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