Pe. Joaquim Carreira das Neves
Acabámos de celebrar o centro da fé cristã baseada na ressurreição de Jesus Cristo. Segundo São Paulo, em resposta a uma fação de cristãos de Corinto que não acreditava na ressurreição, “Se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é inútil e e a vossa fé é inútil também… Ora, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem fundamento e vocês são ainda escravos dos vossos pecados… Se a esperança que temos em Cristo não vai para além desta vida, somos os mais miseráveis de todos” (1Cor 15, 16-19).
A nossa fé na ressurreição de Jesus Cristo complica-se quando, em teologia, perguntamos: E como é que se explica teologicamente a ressurreição? Há uma explicação racional? Não passa duma asserção de fé? Não será uma pura metáfora? Uma vez mais, S. Paulo pode dar-nos a resposta. Escreve: “Alguém pode perguntar: “Como é que os mortos ressuscitam? Com que corpo vão eles aparecer?… Assim acontecerá também com a ressurreição dos mortos. Enterra-se um corpo mortal, e ressuscita imortal. Enterra-se um corpo sem beleza, e ressuscita cheio de esplendor; enterra-se um corpo fraco, e ressuscita forte. Enterra-se um simples corpo humano, e aparece depois um corpo cheio de vida nova, dada pelo Espírito” (1Cor 15, 35. 42-44). S. Paulo acreditava, pois, na ressurreição como acontecimento histórico: trata-se de um corpo ressurreccionado, que é diferente de um corpo apenas imortal ou espiritual. Segundo a antropologia bíblica, ao contrário da grega, o corpo material é constituinte necessário da pessoa ou do eu individual. Se o Ressuscitado é a pessoa de Jesus de Nazaré, é sempre um corpo e não apenas uma alma ou um espírito. De maneira clássica, costumamos falar de “corpo glorioso”.
Sem ressurreição não há fé cristã. Sem a ressurreição de Jesus Cristo, o mesmo Jesus não seria mais do que um simples grande homem, grande doutrinador, grande profeta, grande homem de Deus.
À luz das narrativas bíblicas, a razão histórica aplicada à pessoa histórica de Jesus termina nas narrativas do túmulo vazio. Mas, segundo o grande filósofo Emanuel Kant, a razão pura levada ao seu limite não explica toda a realidade. Depois da razão pura vem a razão prática para explicar a verdadeira realidade que consiste também no sentimento, no amor, no coração, na consciência, na ética e moral e, definitivamente, em Deus. Segundo o “Princepezinho”, o “Invisível” é a real dimensão do ser humano.
O assunto, nestes últimos dias, recebeu uma dimensão nacional, em Espanha, por causa duma “Notificação” da “Comissão Episcopal da Igreja Católica Espanhola para a Doutrina Cristã” dirigida ao teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga. Trata-se de um teólogo conhecido e reconhecido tanto em Espanha como na América Latina, professor na Universidade de São Tiago de Compostela. Entre os muitos livros que escreveu sobressai a obra “Repensar a Ressurreição”. O autor defende a ressurreição de Jesus Cristo “em espírito”, sem a necessidade primária do “corpo”. Se, por hipótese, se encontrasse o túmulo de Jesus com as suas ossadas, havia motivos para continuar a falar de ressurreição. O grande teólogo católico Karl Rahner também defendeu esta tese. Neste sentido, a ressurreição de Jesus Cristo seria um acontecimento histórico simbólico ou metafórico, digno de crédito, mas diferente, em qualidade de perceção, da tradição teológica da fé católica. Mas nunca por nunca, esta tradição, desde os Padres da Igreja, apresentou provas de história positiva sobre a ressurreição de Jesus Cristo. Todas as provas são humanas: Jesus Cristo fez-se aparecer a pessoas que, por sua vez, se apresentaram como tais. É, pois, uma prova “testemunhal”. E neste testemunho também entra a retórica narrativa apologética. O caso mais significativo é a narrativa sobre o apóstolo Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu peito. Não sejas descrente! Acredita!” E Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” Jesus disse-lhe: “Acreditas agora porque me viste? Felizes os que acreditarem sem terem visto” (Jo 20, 27-29).
As dúvidas dos cristãos de Corinto ou dos cristãos das comunidades joânicas são as de ontem e de hoje. O problema é que a exegese bíblica moderna fala de narrativas “apologéticas” e não “históricas”. Históricas são as dúvidas. Não nos escandalizemos, pois, se afirmarmos que não temos provas de história factual, mas apenas de história testemunhal. E também estas nem sempre são fáceis de entender. Como compreender, de facto, a primeira narrativa paulina a ser escrita (por volta do ano 53-55): “Apareceu a Pedro e, a seguir, ao grupo dos doze [não eram só onze?]. Apareceu ainda a mais de quinhentos “irmãos” de uma só vez. A maior parte deles ainda vive, mas alguns já morreram [quem são este quinhentos irmãos, dos quais nunca mais se fala?]. Apareceu, depois, a Tiago e, em seguida, a todos os apóstolos [quem são estes apóstolos, diferentes, necessariamente, do grupo dos doze?]. Em último lugar, apareceu-me também a mim, que sou quase como um aborto” (1Cor 15, 5-8). Por outro lado, S. Paulo refere a verdade da ressurreição em função da verdade da “parusia” e do “juízo final”, que devia acontecer durante a vida histórica de S. Paulo: “Vou dar-vos a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos havemos de ser transformados. Isso acontecerá num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final. Quando ela se ouvir, os mortos ressuscitam para não mais morrerem, e nós seremos transformados” (1Cor 15, 51-52; cf. 1Ts 4, 15-17).
A manhã da Páscoa não é um acontecimento separado dos “ressuscitados” seguidores do Mestre que venceu a morte. Mas o Mestre é muito mais do que um Sócrates, Platão ou Aristóteles, Moisés, David ou Isaías. De contrário, não precisávamos de acreditar. Nem o Jesus “joânico” nos diria: “Felizes os que acreditarem sem terem visto.” Quem acredita, a começar pelos apóstolos, mulheres que vão ao túmulo, S. Paulo, carrega consigo o grande “mistério” do Infinito no finito histórico de cada um. A ressurreição venceu a morte. A vida é um aleluia de ressurreição em liturgia humano-cristã, pessoal e cósmica. Com a ressurreição, o homem todo (corpo e alma) e todo o homem percorre os caminhos da Vida que não tem fim. A ressurreição é um signo de sentido final. Resume-se, então, à grande “metáfora” da Vida? Só é metáfora se for resposta a um acontecimento “real” de realidade transcendente, infinita, sem compreensão puramente racional, histórica e humana.
Pe. Joaquim Carreira das Neves
Professor Jubilado da UCP
A nossa fé na ressurreição de Jesus Cristo complica-se quando, em teologia, perguntamos: E como é que se explica teologicamente a ressurreição? Há uma explicação racional? Não passa duma asserção de fé? Não será uma pura metáfora? Uma vez mais, S. Paulo pode dar-nos a resposta. Escreve: “Alguém pode perguntar: “Como é que os mortos ressuscitam? Com que corpo vão eles aparecer?… Assim acontecerá também com a ressurreição dos mortos. Enterra-se um corpo mortal, e ressuscita imortal. Enterra-se um corpo sem beleza, e ressuscita cheio de esplendor; enterra-se um corpo fraco, e ressuscita forte. Enterra-se um simples corpo humano, e aparece depois um corpo cheio de vida nova, dada pelo Espírito” (1Cor 15, 35. 42-44). S. Paulo acreditava, pois, na ressurreição como acontecimento histórico: trata-se de um corpo ressurreccionado, que é diferente de um corpo apenas imortal ou espiritual. Segundo a antropologia bíblica, ao contrário da grega, o corpo material é constituinte necessário da pessoa ou do eu individual. Se o Ressuscitado é a pessoa de Jesus de Nazaré, é sempre um corpo e não apenas uma alma ou um espírito. De maneira clássica, costumamos falar de “corpo glorioso”.
Sem ressurreição não há fé cristã. Sem a ressurreição de Jesus Cristo, o mesmo Jesus não seria mais do que um simples grande homem, grande doutrinador, grande profeta, grande homem de Deus.
À luz das narrativas bíblicas, a razão histórica aplicada à pessoa histórica de Jesus termina nas narrativas do túmulo vazio. Mas, segundo o grande filósofo Emanuel Kant, a razão pura levada ao seu limite não explica toda a realidade. Depois da razão pura vem a razão prática para explicar a verdadeira realidade que consiste também no sentimento, no amor, no coração, na consciência, na ética e moral e, definitivamente, em Deus. Segundo o “Princepezinho”, o “Invisível” é a real dimensão do ser humano.
O assunto, nestes últimos dias, recebeu uma dimensão nacional, em Espanha, por causa duma “Notificação” da “Comissão Episcopal da Igreja Católica Espanhola para a Doutrina Cristã” dirigida ao teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga. Trata-se de um teólogo conhecido e reconhecido tanto em Espanha como na América Latina, professor na Universidade de São Tiago de Compostela. Entre os muitos livros que escreveu sobressai a obra “Repensar a Ressurreição”. O autor defende a ressurreição de Jesus Cristo “em espírito”, sem a necessidade primária do “corpo”. Se, por hipótese, se encontrasse o túmulo de Jesus com as suas ossadas, havia motivos para continuar a falar de ressurreição. O grande teólogo católico Karl Rahner também defendeu esta tese. Neste sentido, a ressurreição de Jesus Cristo seria um acontecimento histórico simbólico ou metafórico, digno de crédito, mas diferente, em qualidade de perceção, da tradição teológica da fé católica. Mas nunca por nunca, esta tradição, desde os Padres da Igreja, apresentou provas de história positiva sobre a ressurreição de Jesus Cristo. Todas as provas são humanas: Jesus Cristo fez-se aparecer a pessoas que, por sua vez, se apresentaram como tais. É, pois, uma prova “testemunhal”. E neste testemunho também entra a retórica narrativa apologética. O caso mais significativo é a narrativa sobre o apóstolo Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu peito. Não sejas descrente! Acredita!” E Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” Jesus disse-lhe: “Acreditas agora porque me viste? Felizes os que acreditarem sem terem visto” (Jo 20, 27-29).
As dúvidas dos cristãos de Corinto ou dos cristãos das comunidades joânicas são as de ontem e de hoje. O problema é que a exegese bíblica moderna fala de narrativas “apologéticas” e não “históricas”. Históricas são as dúvidas. Não nos escandalizemos, pois, se afirmarmos que não temos provas de história factual, mas apenas de história testemunhal. E também estas nem sempre são fáceis de entender. Como compreender, de facto, a primeira narrativa paulina a ser escrita (por volta do ano 53-55): “Apareceu a Pedro e, a seguir, ao grupo dos doze [não eram só onze?]. Apareceu ainda a mais de quinhentos “irmãos” de uma só vez. A maior parte deles ainda vive, mas alguns já morreram [quem são este quinhentos irmãos, dos quais nunca mais se fala?]. Apareceu, depois, a Tiago e, em seguida, a todos os apóstolos [quem são estes apóstolos, diferentes, necessariamente, do grupo dos doze?]. Em último lugar, apareceu-me também a mim, que sou quase como um aborto” (1Cor 15, 5-8). Por outro lado, S. Paulo refere a verdade da ressurreição em função da verdade da “parusia” e do “juízo final”, que devia acontecer durante a vida histórica de S. Paulo: “Vou dar-vos a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos havemos de ser transformados. Isso acontecerá num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final. Quando ela se ouvir, os mortos ressuscitam para não mais morrerem, e nós seremos transformados” (1Cor 15, 51-52; cf. 1Ts 4, 15-17).
A manhã da Páscoa não é um acontecimento separado dos “ressuscitados” seguidores do Mestre que venceu a morte. Mas o Mestre é muito mais do que um Sócrates, Platão ou Aristóteles, Moisés, David ou Isaías. De contrário, não precisávamos de acreditar. Nem o Jesus “joânico” nos diria: “Felizes os que acreditarem sem terem visto.” Quem acredita, a começar pelos apóstolos, mulheres que vão ao túmulo, S. Paulo, carrega consigo o grande “mistério” do Infinito no finito histórico de cada um. A ressurreição venceu a morte. A vida é um aleluia de ressurreição em liturgia humano-cristã, pessoal e cósmica. Com a ressurreição, o homem todo (corpo e alma) e todo o homem percorre os caminhos da Vida que não tem fim. A ressurreição é um signo de sentido final. Resume-se, então, à grande “metáfora” da Vida? Só é metáfora se for resposta a um acontecimento “real” de realidade transcendente, infinita, sem compreensão puramente racional, histórica e humana.
Pe. Joaquim Carreira das Neves
Professor Jubilado da UCP
Acabámos de celebrar o centro da fé cristã baseada na ressurreição de Jesus Cristo. Segundo São Paulo, em resposta a uma fação de cristãos de Corinto que não acreditava na ressurreição, “Se Cristo não ressuscitou, então a nossa pregação é inútil e e a vossa fé é inútil também… Ora, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, a vossa fé não tem fundamento e vocês são ainda escravos dos vossos pecados… Se a esperança que temos em Cristo não vai para além desta vida, somos os mais miseráveis de todos” (1Cor 15, 16-19).
A nossa fé na ressurreição de Jesus Cristo complica-se quando, em teologia, perguntamos: E como é que se explica teologicamente a ressurreição? Há uma explicação racional? Não passa duma asserção de fé? Não será uma pura metáfora? Uma vez mais, S. Paulo pode dar-nos a resposta. Escreve: “Alguém pode perguntar: “Como é que os mortos ressuscitam? Com que corpo vão eles aparecer?… Assim acontecerá também com a ressurreição dos mortos. Enterra-se um corpo mortal, e ressuscita imortal. Enterra-se um corpo sem beleza, e ressuscita cheio de esplendor; enterra-se um corpo fraco, e ressuscita forte. Enterra-se um simples corpo humano, e aparece depois um corpo cheio de vida nova, dada pelo Espírito” (1Cor 15, 35. 42-44). S. Paulo acreditava, pois, na ressurreição como acontecimento histórico: trata-se de um corpo ressurreccionado, que é diferente de um corpo apenas imortal ou espiritual. Segundo a antropologia bíblica, ao contrário da grega, o corpo material é constituinte necessário da pessoa ou do eu individual. Se o Ressuscitado é a pessoa de Jesus de Nazaré, é sempre um corpo e não apenas uma alma ou um espírito. De maneira clássica, costumamos falar de “corpo glorioso”.
Sem ressurreição não há fé cristã. Sem a ressurreição de Jesus Cristo, o mesmo Jesus não seria mais do que um simples grande homem, grande doutrinador, grande profeta, grande homem de Deus.
À luz das narrativas bíblicas, a razão histórica aplicada à pessoa histórica de Jesus termina nas narrativas do túmulo vazio. Mas, segundo o grande filósofo Emanuel Kant, a razão pura levada ao seu limite não explica toda a realidade. Depois da razão pura vem a razão prática para explicar a verdadeira realidade que consiste também no sentimento, no amor, no coração, na consciência, na ética e moral e, definitivamente, em Deus. Segundo o “Princepezinho”, o “Invisível” é a real dimensão do ser humano.
O assunto, nestes últimos dias, recebeu uma dimensão nacional, em Espanha, por causa duma “Notificação” da “Comissão Episcopal da Igreja Católica Espanhola para a Doutrina Cristã” dirigida ao teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga. Trata-se de um teólogo conhecido e reconhecido tanto em Espanha como na América Latina, professor na Universidade de São Tiago de Compostela. Entre os muitos livros que escreveu sobressai a obra “Repensar a Ressurreição”. O autor defende a ressurreição de Jesus Cristo “em espírito”, sem a necessidade primária do “corpo”. Se, por hipótese, se encontrasse o túmulo de Jesus com as suas ossadas, havia motivos para continuar a falar de ressurreição. O grande teólogo católico Karl Rahner também defendeu esta tese. Neste sentido, a ressurreição de Jesus Cristo seria um acontecimento histórico simbólico ou metafórico, digno de crédito, mas diferente, em qualidade de perceção, da tradição teológica da fé católica. Mas nunca por nunca, esta tradição, desde os Padres da Igreja, apresentou provas de história positiva sobre a ressurreição de Jesus Cristo. Todas as provas são humanas: Jesus Cristo fez-se aparecer a pessoas que, por sua vez, se apresentaram como tais. É, pois, uma prova “testemunhal”. E neste testemunho também entra a retórica narrativa apologética. O caso mais significativo é a narrativa sobre o apóstolo Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Estende a tua mão e mete-a no meu peito. Não sejas descrente! Acredita!” E Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!” Jesus disse-lhe: “Acreditas agora porque me viste? Felizes os que acreditarem sem terem visto” (Jo 20, 27-29).
As dúvidas dos cristãos de Corinto ou dos cristãos das comunidades joânicas são as de ontem e de hoje. O problema é que a exegese bíblica moderna fala de narrativas “apologéticas” e não “históricas”. Históricas são as dúvidas. Não nos escandalizemos, pois, se afirmarmos que não temos provas de história factual, mas apenas de história testemunhal. E também estas nem sempre são fáceis de entender. Como compreender, de facto, a primeira narrativa paulina a ser escrita (por volta do ano 53-55): “Apareceu a Pedro e, a seguir, ao grupo dos doze [não eram só onze?]. Apareceu ainda a mais de quinhentos “irmãos” de uma só vez. A maior parte deles ainda vive, mas alguns já morreram [quem são este quinhentos irmãos, dos quais nunca mais se fala?]. Apareceu, depois, a Tiago e, em seguida, a todos os apóstolos [quem são estes apóstolos, diferentes, necessariamente, do grupo dos doze?]. Em último lugar, apareceu-me também a mim, que sou quase como um aborto” (1Cor 15, 5-8). Por outro lado, S. Paulo refere a verdade da ressurreição em função da verdade da “parusia” e do “juízo final”, que devia acontecer durante a vida histórica de S. Paulo: “Vou dar-vos a conhecer um mistério: nem todos morreremos, mas todos havemos de ser transformados. Isso acontecerá num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da trombeta final. Quando ela se ouvir, os mortos ressuscitam para não mais morrerem, e nós seremos transformados” (1Cor 15, 51-52; cf. 1Ts 4, 15-17).
A manhã da Páscoa não é um acontecimento separado dos “ressuscitados” seguidores do Mestre que venceu a morte. Mas o Mestre é muito mais do que um Sócrates, Platão ou Aristóteles, Moisés, David ou Isaías. De contrário, não precisávamos de acreditar. Nem o Jesus “joânico” nos diria: “Felizes os que acreditarem sem terem visto.” Quem acredita, a começar pelos apóstolos, mulheres que vão ao túmulo, S. Paulo, carrega consigo o grande “mistério” do Infinito no finito histórico de cada um. A ressurreição venceu a morte. A vida é um aleluia de ressurreição em liturgia humano-cristã, pessoal e cósmica. Com a ressurreição, o homem todo (corpo e alma) e todo o homem percorre os caminhos da Vida que não tem fim. A ressurreição é um signo de sentido final. Resume-se, então, à grande “metáfora” da Vida? Só é metáfora se for resposta a um acontecimento “real” de realidade transcendente, infinita, sem compreensão puramente racional, histórica e humana.
Pe. Joaquim Carreira das Neves
Professor Jubilado da UCP