Ressurreição de Jesus: Dúvidas e testemunhos

«Não temos provas de história factual, mas apenas de história testemunhal», considera especialista na Bíblia

Lisboa, 10 abr 2012 (Ecclesia) – A ressurreição de Jesus suscitou sempre dúvidas nos cristãos e não é a inexistente “história factual” sobre o assunto que as vai desfazer, considera o padre Joaquim Carreira das Neves, especialista na Bíblia.

“Históricas são as dúvidas. Não nos escandalizemos, pois, se afirmarmos que não temos provas de história factual, mas apenas de história testemunhal”, e mesmo estas “nem sempre são fáceis de entender”, assinala o exegeta em artigo publicado na edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA.

O religioso franciscano realça que “nunca por nunca” os cristãos apresentaram “provas de história positiva sobre a ressurreição”: “Jesus Cristo fez-se aparecer a pessoas que, por sua vez, se apresentaram como tais. É, pois, uma prova ‘testemunhal’”.

O especialista indica várias interrogações levantadas pelos textos bíblicos que até hoje permanecem sem compreensão clara, como sucede na narrativa que descreve o aparecimento de Jesus, após a ressurreição, “a mais de quinhentos ‘irmãos’ de uma só vez”, número que não é mencionado em mais nenhum excerto.

“Como compreender (…) a primeira narrativa paulina a ser escrita (por volta do ano 53-55): ‘Apareceu a Pedro e, a seguir, ao grupo dos doze’”, questiona igualmente o especialista, para a seguir perguntar: “Não eram só onze?”.

Por outro lado, sublinha, a convicção na ressurreição de Jesus “complica-se” quando se inquire sobre o seu esclarecimento teológico: “Há uma explicação racional? Não passa duma asserção de fé? Não será uma pura metáfora?”.

O padre Carreira das Neves recorre à primeira carta de São Paulo aos cristãos de Corinto para avançar uma resposta: “Enterra-se um corpo mortal, e ressuscita imortal. Enterra-se um corpo sem beleza, e ressuscita cheio de esplendor; enterra-se um corpo fraco, e ressuscita forte. Enterra-se um simples corpo humano, e aparece depois um corpo cheio de vida nova, dada pelo Espírito”.

“São Paulo acreditava, pois, na ressurreição como acontecimento histórico: trata-se de um corpo ressurreccionado, que é diferente de um corpo apenas imortal ou espiritual”, considera o professor jubilado da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa.

O tema da ressurreição ganhou recentemente “dimensão nacional” em Espanha por causa de uma Notificação da Comissão para a Doutrina Cristã do episcopado local, dirigida ao teólogo Andrés Torres Queiruga.

O investigador espanhol defende “a ressurreição de Jesus Cristo ‘em espírito’, sem a necessidade primária do ‘corpo’” na obra ‘Repensar a Ressurreição’, refere o padre Carreira das Neves.

A tese implica que se por hipótese fosse encontrado o túmulo de Jesus com as suas ossadas, haveria “motivos para continuar a falar de ressurreição”, perspetiva também partilhada pelo “grande teólogo católico Karl Rahner”, escreve o exegeta português.

“Quem acredita, a começar pelos apóstolos, mulheres que vão ao túmulo, S. Paulo, carrega consigo o grande ‘mistério’ do Infinito no finito histórico de cada um”, aponta o biblista.

RJM

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