Responsabilidade no uso da comunicação social

Intenção Geral do Santo Padre para o mês de Setembro 1. Um bem que precisa de ser cuidado. Sendo em si mesmos um bem, os meios de comunicação social, como outros meios, são essencialmente instrumentos. E, por isso, o bem que lhes é próprio pode facilmente ser eclipsado, se utilizados de modo incorrecto ou para fins indignos do ser humano. Assim acontece quando são colocados ao serviço de ideologias nefastas, apostadas em promover comportamentos individuais e colectivos desumanizantes: racismo, totalitarismos políticos, fundamentalismos de todo o género… Ou quando, tendo em vista maximizar os lucros, promovem a degradação do ser humano: pornografia, perversões morais, consumismo desenfreado… Só a utilização consciente e responsável destes meios permitirá evitar tais perversões e realizar o bem que lhes é próprio. 2. Responsabilidade dos comunicadores. Tendo presente as enormes potencialidades destes meios, é grande a responsabilidade dos seus detentores e de quem neles trabalha: produtores, realizadores de programas ou filmes, actores, jornalistas… Como afirma o Concílio Vaticano II, «é necessário que todos os que se servem deles» «tenham em conta todas as circunstâncias ou condições, isto é, o fim, as pessoas, o lugar, o tempo e outros factores mediante os quais a comunicação se realiza e que podem mudar ou alterar inteiramente a sua bondade moral» (Inter mirifica, 4). Infelizmente, a auto-regulação a que o Concílio faz apelo vê-se ultrapassada por objectivos mais imediatos: liderança das audiências e, logo, dos lucros; satisfação de grupos de pressão minoritários mas organizados que pretendem impor à sociedade ideologias e modos de vida alheios ao sentir comum; promoção do «culturalmente correcto», do que aparece como mais «progressista», da última moda ou da última mania… Há, sem dúvida, jornalistas competentes e dedicados aos valores da sua profissão; realizadores empenhados em produzir informação com seriedade ou entretenimento sadio; actores de enorme qualidade dando vida a filmes, séries televisivas, peças de teatro de reconhecido mérito… É inegável, porém, que, não raro, todos estes passam para segundo plano, face à exigência de conquistar audiências do modo mais fácil. 3. Responsabilidade dos consumidores. Todos, num momento ou noutro, acabamos sendo consumidores da informação e do entretenimento fornecidos pelos meios de comunicação social. Tendo em conta o tipo de sociedade em que vivemos, não é de esperar de tais meios, como sugeria acima, grandes preocupações de auto-regulação. Nas sociedades democráticas, porém, à liberdade de difundir todo o tipo de informação e entretenimento corresponde, da parte dos consumidores, a liberdade de escolher aquilo que pretendem consumir. Em última instância, podem até escolher não consumir nada. É, pois, responsabilidade de cada um assumir os próprios valores e convicções e agir em conformidade, face aos meios de comunicação social – e não se deixar seduzir, consumindo acriticamente tudo quanto estes produzem e promovem. Não se entenda esta atitude em sentido passivo. Pelo contrário, trata-se de agir, rejeitando programas, revistas, jornais, filmes… que ofendam as convicções e os sentimentos mais íntimos de cada um; e, quando possível, utilizar os mesmos meios ou outros que estejam disponíveis para promover opções de vida e comportamentos diferentes. 4. Um exemplo. Esteve em exibição, há meses, um filme ofensivo para a Santa Sé, para uma associação católica e para os católicos, em geral. Muitos católicos optaram, simplesmente, por rejeitar o filme, recusando consumi-lo e promovendo esta recusa – atitude plenamente legítima e responsável. Os «guardiões do templo» da liberdade de expressão, porém, vieram logo a público esgrimir contra a Igreja Católica, acusando-a de pretender colocar entraves à liberdade de expressão – estranho conceito de liberdade, este, segundo o qual uns são livres de promover e vender o insulto e os outros não são livres de não o comprar e de aconselhar nesse sentido… A responsabilidade no uso dos meios de comunicação social passa precisamente por aqui: ser capaz de dizer não ao consumismo acrítico, fazendo escolhas informadas e promovendo tais escolhas. Demitir-se de escolher (de ser livre) não é opção – pelo menos, para os católicos conscientes das exigências da sua fé. Elias Couto

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top