O presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República (CNCCR), Artur Santos Silva, considera que a separação entre a Igreja e o Estado constitui um elemento “positivo” e “fundamental” da mudança de regime ocorrida a 5 de Outubro de 1910, mas a “maneira como ela foi assumida, temos que reconhecer, não foi a melhor”.
Aquele responsável admitiu que “houve muitos aspectos negativos, sobretudo entre 1910 e 1913”, na relação entre a Igreja e o Estado. “É indiscutível – acrescentou Artur Santos Silva – que a II República tirou ilações” desse período.
Durante a conferência de imprensa promovida para apresentar o programa oficial das actividades comemorativas dos 100 anos da República, o presidente da CNCCR afirmou que tem havido “um diálogo positivo” com “inúmeras instituições ligadas à Igreja, sobretudo a Universidade Católica”.
Artur Santos Silva recordou que a Comissão Consultiva das Comemorações conta com a presença do bispo do Porto, D. Manuel Clemente, a quem reconheceu “uma posição muito esclarecida nas reuniões que temos tido”.
Por seu lado, a comissária da CNCCR, Maria Fernanda Rollo, referiu que a questão religiosa é uma “temática central muitíssimo importante”.
“É indispensável aprofundar a investigação histórica sobre estas matérias”, afirmou a docente universitária, que mencionou a existência de fontes, nomeadamente no Vaticano, “que não temos acompanhado como devíamos”.
Entre as publicações que a Comissão Nacional vai lançar, encontra-se um volume sobre “a questão religiosa e a posição da Igreja”. Prevê-se igualmente a realização de uma actividade intitulada “República e Laicidade”, que será coordenada por Fernando Catroga. A iniciativa, que ainda não tem data marcada, ocorrerá em Coimbra.
Recordar o passado e projectar o futuro
A ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, afirmou que as comemorações pretendem “promover a reflexão colectiva sobre a nossa História”, procurando igualmente entender e aprofundar “os desafios do pensamento republicano para o século XXI”.
Entre as cerca de 500 iniciativas previstas para assinalar o centenário da República, mais de 50 estão ligadas a projectos relacionados com a cultura. O orçamento atribuído à CNCCR é de 10 milhões de euros.
“Pretendemos sobretudo partir do presente e olhar para o futuro”, fazendo com que os “ideais republicanos revisitados”, e “tudo o que tem a ver com a educação da cidadania”, contribuam para “um Portugal melhor”, afirmou Artur Santos Silva.
Este responsável sublinhou que “as grandes alterações” que ocorreram após a Implantação da República reflectiram-se “sobretudo na escola e na educação, vectores fundamentais da promoção da igualdade”.
Maria Fernanda Rollo indicou que as comemorações pretendem “promover o património cultural, especialmente da I República, que ainda precisa de muita investigação”.
O programa das actividades culturais está organizado de acordo com vários “eixos temáticos”: arte, desporto, exposições, espectáculos, publicações e animação do espaço público. Os eventos procurarão igualmente salientar a relação da República com escolas, universidades, ciência, cidadania, municípios, Regiões Autónomas, Lusofonia e meios de comunicação social.
As manifestações artísticas expressar-se-ão através da arquitectura, mostras de arquivos, banda desenhada, caricatura, cinema, dança, documentários, eventos multimédia, festivais, filatelia, moda, música, pintura, rádio, televisão e teatro, entre outras representações.