A implantação da República, em 1910, deu um contributo positivo para o desenvolvimento da Igreja, defendeu o bispo do Porto, D. Manuel Clemente, numa conferência realizada este Domingo no Bombarral.
Um dos equívocos relacionados com a mudança de regime é julgar que “até ao 5 de Outubro de 1910 Portugal era um país católico, onde as coisas corriam muito positivamente para o catolicismo. A seguir e até 28 de Maio de 1926, o catolicismo foi perseguido em Portugal. Nada mais incorrecto”, esclareceu o prelado, citado pela Lusa.
Com base em textos da época, o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais demonstrou que “o estado do catolicismo português, antes do 5 de Outubro não era propriamente próspero” e que, apesar de Portugal ser considerado um país com “cinco milhões de católicos”, apenas menos de um décimo seriam praticantes.
“O grande problema da Igreja Católica com a República não foi o 5 de Outubro, mas a Lei de Separação do Estado das Igrejas”, publicada pelo ministro da Justiça, Afonso Costa, em 20 de Abril de 1911, que a hierarquia considerou “não uma lei de separação, mas de opressão”, afirmou o bispo do Porto.
O protesto colectivo do episcopado levou a um “extremar de campos” entre o Governo e a Igreja, evidenciando, segundo o historiador, “uma resistência” por parte das instituições eclesiais que “surpreende até os próprios católicos”.
O aparecimento do que D. Manuel Clemente considera “uma outra consciência católica” e a entrada dos crentes na política, com a Igreja a passar a ter representação parlamentar, levaram a hierarquia a ganhar uma nova força, tornando contra-produncente o agravo aos católicos.
“O quadro em que a Igreja se tinha que mover dentro da monarquia constitucional era muito exíguo para que ela se pudesse desenvolver autonomamente”, salientou o prelado.
O limite que a República quis impor com a Lei da Separação “era tão insuportável que a Igreja teve que se organizar fora desse enquadramento político e reencontrar-se naquilo que é a sua originalidade”, sustentou o bispo do Porto.
A leitura dos acontecimentos dos últimos cem anos revela, segundo D. Manuel Clemente, “uma evolução” da Igreja e do Estado: se da parte do episcopado “nunca houve uma rejeição da República enquanto regime político, também se verifica que a própria República, sobretudo a partir de 1917, também começa a ter um outro entendimento do que é o lugar de uma confissão religiosa na República”.
Lusa (com Agência Ecclesia)