Responsável aponta o dedo às potências estrangeiras que cobiçam riquezas como o petróleo e os diamantes
Lisboa, 20 nov 2018 (Ecclesia) – O vigário geral da Arquidiocese de Bangui, na República Centro-Africana, diz que a situação do país é “desastrosa”, envolto num conflito onde as diferenças religiosas são “instrumentalizadas” para atingir fins políticos e económicos.
“É com tristeza que percebemos que há pessoas que não querem nunca chegar à paz”, lamenta o padre Mathieu Bondobo, que aponta o dedo sobretudo às “potências” internacionais que alimentam o conflito com o objetivo de chegar às “riquezas” existentes no país, como as reservas de diamantes, ouro e petróleo.
Essas potências vivem dessas coisas e por isso tentam tirar proveito da situação para terem vantagens com isso. Há algumas pessoas que vivem bem porque há guerra; infelizmente é assim”, realça o sacerdote.
Bem presente na mente deste responsável católico continua a tragédia de 15 de novembro, dia em que um grupo armado muçulmano atacou um campo de refugiados em Alindao, a cerca de 300 quilómetros de Bangui, e provocou mais de 40 mortos, entre os quais dois sacerdotes.
De acordo com uma nota publicada pela Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, este “massacre” levado a cabo por forças rebeldes ex. seleka terá ocorrido “em retaliação pelo assassinato, alguns dias antes, de um homem muçulmano às mãos de membros da milícia cristã anti-balaka.
“O que aconteceu em Alindao é desumano! Basta olhar para as imagens, basta ver como as pessoas foram mortas, basta ver um ser humano queimado por nada! É algo que a humanidade não pode aceitar”, frisa o padre Mathieu Bondobo para quem em primeiro lugar é preciso deixar o povo da República Centro-Africana seguir o seu caminho.
“As potências que estão interessadas nas riquezas do nosso país, devem entender que somos um povo soberano. Somos um povo independente e devemos beneficiar das nossas riquezas. É a nossa terra!”, salienta o sacerdote, que vai ainda mais longe.
“Não podemos dizer que nos encontramos no meio a uma guerra de religiões. Há uma grande instrumentalização na base. Quem sabe existam aqueles que queiram levar para uma guerra de religiões, para assim justificar seus planos”, completou.
Durante o ataque ao campo de refugiados de Alindao, a catedral local foi incendiada e várias das vítimas foram queimadas vivas pelos rebeldes muçulmanos.
Esta tragédia levou o Papa Francisco, durante o ângelus deste domingo, a pedir novamente a paz para a República Central-Africana, nação que visitou em 2015.
“A sua primeira palavra impressionou-me muito; ele começou por dizer ‘Com dor’. Isso é muito importante para nós, porque ele sofre connosco. Significa que a viagem do Papa não foi esquecida; deu frutos”, destaca o padre Mathieu Bondobo, que acredita que “a paz virá” para o seu país.
“Tenho certeza disso. Virá. Porque nós temos fé em Deus e Deus é a nossa paz”, completou.
JCP