Repor a verdade

Isabel Figueiredo, diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Respeito e coerência, Duas palavras antiquadas, que nos remetem para figuras passadas, ou exigências fora do tempo. Mas é surpreendente como se tornaram urgentes, como precisamos delas para viver debaixo desta amálgama de acontecimentos, que provocam noticias, que depois provocam comportamentos, que incomodam e escandalizam. Na certeza de que o maior risco será sempre acabarmos por ficar anestesiados perante tudo o que ouvimos, lemos e assistimos a nível nacional e internacional.

As últimas semanas podiam ser consideradas como um caso de estudo, nesta dinâmica da valorização versus desvalorização das palavras “respeito” e “coerência”. Enquanto profissional de comunicação social, preocupa-me ver a forma como os órgãos de comunicação social se podem tornar amplificadores de tudo o que podemos condenar do ponto de vista comportamental e até mesmo moral. E a justificação da isenção, não pode, nem deve servir para tudo. Até porque, na minha modesta opinião falar de uma comunicação isenta, é algo em que não acredito.

Se todos os consumidores de comunicação e de informação, fossem pessoas com tempo para discernir o que consomem, se todos tivéssemos os mesmos graus de instrução, se estivéssemos sentados à volta de uma mesa, a comparar noticias e a ver o grau de coerência entre os factos apresentados, se fosse assim… mas isto é algo que acontece com uma minoria de uma minoria, que se interessa por estes temas e faz deles casos de estudo. A maioria das pessoas, ou melhor, a maioria dos portugueses, olha para os títulos dos jornais, vê televisão no café, muitas vezes sem som, pelo que o que se torna mais relevante são as notas que passam em rodapé, tem o computador ligado e vai vendo ou ouvindo notícias, com uma atenção reduzida. Na verdade, ganham quase sempre os sound bites que vão circulando à velocidade das redes sociais e das mensagens que trocamos.

Já todos percebemos que cresce a falta de respeito na vida política, seja ela nacional ou internacional e que a coerência não é um valor prioritário, antes pelo contrário, é sempre possível encontrar justificações e novas coerências. O que ainda não percebemos, porque não o conseguimos testemunhar é a possibilidade de ser a comunicação social a fazer um trabalho que só ela pode fazer, dando ou retirando, palco e credibilidade a muito do que acontece.

Alguém falava de um tempo de barbárie, que pensávamos ter ficado perdido nos séculos. Mas percebemos que não é bem assim. A forma como a guerra acontece, as lutas partidárias a que assistimos, a total falta de respeito pela vida dos outros, são sinais de que não é assim. Precisamos mais do que nunca, de uma comunicação social que saiba repor a verdade e denunciar a mentira; uma comunicação social que se disponha a valorizar  o respeito que nos devemos uns aos outros e a coerência entre valores e comportamentos; uma comunicação social que desempenhe um papel ativo na sociedade e não se limite a mediar a realidade, a dar a noticia.

Isabel Figueiredo

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