Manuel Joaquim Gomes Barbosa, scj
A Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) empenhou-se, desde o início, no processo que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) encetou, para repensar juntos a pastoral da Igreja em Portugal. Todos os Institutos Religiosos e Sociedades de Vida Apostólica foram chamados a participar, quer a nível das suas estruturas diretivas, quer a nível das comunidades religiosas locais. As comissões nacionais e os secretariados regionais da CIRP empenharam-se também nesta reflexão sinodal.
Essa participação ativa teve os seus momentos culminantes nas assembleias gerais de 2010 (maio e novembro) e de 2011 (maio), sendo a mesma temática retomada na próxima assembleia de novembro. A CIRP tem marcado também presença, quer nas assembleias plenárias e nas jornadas pastorais dos bispos, quer nas várias iniciativas promovidas por movimentos e instâncias paroquiais e diocesanas, onde estão inseridos muitos religiosos e religiosas. A síntese das variadas propostas de sugestões foi enviada ao Secretariado Geral da CEP.
Merecem destaque as reflexões produzidas nas assembleias gerais de 2010. Em maio, refletiu-se sobre a presença significativa dos religiosos na Igreja em Portugal e sobre as prioridades que querem sublinhar em relação a essa mesma presença, contribuindo para uma pastoral renovada e renovadora da Igreja em áreas como a educação, a formação, a saúde e o envelhecimento ativo e a pastoral de conjunto. Procuraram discernir de novo, em conjunto, a sua identidade (o que são), o seu testemunho (como são significativos para os outros) e as prioridades da sua presença e inserção nas Igrejas locais (que querem ser).
Em novembro, após algumas “intuições para um novo modo de ser e de agir da Igreja em Portugal”, provocadas por António Pinto Leite (Presidente da ACEGE), a assembleia trabalhou em grupos sobre o processo em curso. De realçar uma excelente reflexão do padre António Gomes Dias (Redentorista) sobre o contributo dos carismas da vida religiosa, para repensar juntos a pastoral para Portugal: que podem oferecer, em colaboração dinâmica e carismática, para que Igreja seja missionária e, portanto, evangelizadora?
Apontava seis dinamismos: vencer a tentação do narcisismo (os carismas deverão ser memória vocacional da Igreja, para que sirva generosamente a humanidade, enraizando-se em Cristo); reavivar o seguimento de Cristo (os carismas não têm o monopólio do seguimento, mas estão sempre forçados a um novo entusiasmo, para renovar este seguimento de Cristo); superar a nostalgia da cristandade (os carismas podem ajudar a Igreja a viver uma teologia de êxodo em atitude de peregrina e de viva esperança e descobrir a nova fisionomia); desenvolver um modelo de Igreja comunitário e participativo (as comunidades de consagrados devem ser sinal do espírito de fraternidade e comunhão); implementar o compromisso evangelizador (o primeiro modo de evangelizar é o testemunho de vida, que supera a rotina e a inércia na evangelização); encontrar convergência de todos os agentes de pastoral e a participação coordenada de todos os carismas, complementares para a unidade da Igreja carismática.
O processo de itinerário sinodal vai continuar nas comunidades cristãs e religiosas, nas paróquias e dioceses, nos movimentos e outras instituições eclesiais. Tudo pensado em itinerário sinodal, um caminho a percorrer em conjunto, com serenidade e discernimento, coragem e empenho.
Mas continuo a pensar sobre o sentido de tantas iniciativas, encontros e reflexões. Em tudo isto trata-se, pura e simplesmente, de repensar o que somos. Só sendo fiéis ao carisma vindo do Espírito podemos ser verdadeiramente felizes e comungar essa alegria com tantos que connosco peregrinam. Só possuídos pelo entusiasmo de “ser em Deus” podemos ser esperança para nós e entre nós. Enfim, tudo só pode ser autenticamente repensado, se afinal repensarmos o que somos.
Tal processo sinodal será fecundo se assumido na oração refletida e na reflexão orante, provocadoras de novas perspetivas geradoras de acontecimentos de graça e salvação, de liberdade e amor. Tudo fará sentido se nos mantivermos na essência do ser, no âmago da alma, no radical dinamismo do Amor, húmus dos dinamismos da Santidade, da Comunhão e da Missão.
São estes essenciais dinamismos que suportam e renovam qualquer processo, seja de repensar a pastoral seja de nova evangelização, também com o imprescindível contributo dos religiosos e religiosas.
Manuel Joaquim Gomes Barbosa, scj, CIRP no Grupo Repensar Pastoral