Renúncia segue linha do pontificado

D. Manuel Clemente elogia humildade e simplicidade do Papa alemão

Fátima, Santarém, 19 fev 2013 (Ecclesia) – O bispo do Porto afirmou que a renúncia de Bento XVI ao pontificado deve ser lida na linha do que foi o atual pontificado, iniciado em abril de 2005, que considera marcado pela “humildade” e “simplicidade” do Papa.

“O Papa apresentou-se como um humilde servidor da Igreja e creio que essa nota de humildade foi patente, era sempre isso que transparecia, no fundo a simplicidade dos homens sábios e inteligentes”, declarou D. Manuel Clemente à ECCLESIA, num comentário à resignação apresentada por Bento XVI no último dia 11.

O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) fala numa surpresa “relativa” perante esta decisão – a primeira do género em quase 600 anos -, sustentando que “este ato está muito de acordo com o que foi o sentido” do pontificado.

“Nós reparamos que quando [Bento XVI] aparece nas suas audiências -ou quando veio a Portugal em 2010 – é uma pessoa que quase se apaga, porque para ele o que é importante é aquele que testemunha, Jesus Cristo”, precisa.

Para D. Manuel Clemente, este último ato vai “no sentido de adequação a Jesus Cristo” e vem “na linha do que está atrás”.

“O Papa chega à conclusão de que não está capaz de exercer essa missão, percebe que na Igreja se há poder é só para servir”, observa.

O bispo do Porto destaca a “clareza doutrinal” dos textos de Bento XVI, alguém que “com muita inteligência, com muita sabedoria e com muita clareza na exposição” deixou tudo “mais definido” relativamente ao papel do Cristianismo no mundo atual.

“A Igreja Católica existe no mundo, com todos os outros cristãos, apenas para transportar uma mensagem que é uma pessoa, a pessoa de Jesus Cristo”, sublinha.

O vice-presidente da CEP evoca as intervenções de Bento XVI na sua visita a Sulmona, Itália, no dia 4 de julho de 2010, por ocasião do ano jubilar especial, proclamado pelos bispos dos Abruzos e de Molise, para celebrar o 800.º aniversário do nascimento de São Celestino V S(1215-1296), que foi eleito Papa em julho de 1294 e viria a renunciar em dezembro do mesmo ano.

“São Celestino V soube agir segundo a consciência em obediência a Deus, portanto sem receio e com grande coragem, também nos momentos difíceis, como aqueles ligados ao seu breve pontificado, não temendo perder a própria dignidade, mas consciente de que ela consiste em estar na verdade”, disse o atual Papa, num encontro com os jovens.

Bento XVI apresentou a renúncia ao pontificado no último dia 11, decisão com efeito a partir de 28 de fevereiro, abrindo caminho à eleição de um novo Papa.

D. Manuel Clemente, especialista em história da Igreja, diz que os momentos-chave do pontificado começam pela “própria eleição” do cardeal Joseph Ratzinger, aos 78 anos de idade, “também para ele um tanto ou quanto inesperada”.

Essa surpresa foi ultrapassada “positivamente, muito depressa”, logo na missa do início do pontificado, na qual Bento XVI defendeu que o Cristianismo é “a adesão a uma pessoa viva, concreta”.

“Este é o cerne do pontificado”, sustenta o bispo do Porto, que recorda a publicação, nos últimos anos, de “três livros sucessivos sobre Jesus de Nazaré”.

As declarações de D. Manuel Clemente integram o próximo programa ‘70X7’, dedicado ao pontificado de Bento XVI, que a RTP-2 transmite este domingo a partir das 11h30.

OC

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Agência ECCLESIA

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