Associação de Imprensa Missionária publica dossier conjunto sobre acto eleitoral, que deve dar origem a novo país africano
Lisboa, 05 Jan (Ecclesia) – As publicações missionárias de Portugal (Missão Press) decidiram lançar em conjunto, neste mês de Janeiro, um dossier sobre o referendo do próximo dia 9, Domingo, para a autodeterminação do sul do Sudão.
José Vieira, missionário comboniano em Juba, precisamente no sul do Sudão, assina um texto em que aborda a previsível separação desta região do norte sudanês, para “usufruir dos muitos recursos com que a região foi abençoada, nomeadamente petróleo, água, minerais, terras férteis e florestas”.
Antes da eventual independência, contudo, as duas partes terão de resolver “questões polémicas”, como a definição de fronteiras e a divisão da dívida externa sudanesa.
“Se o norte boicotar as eleições, os membros da Assembleia Legislativa do sul do Sudão vão provavelmente fazer uma declaração unilateral de independência”, assinala o missionário português.
José Vieira, chefe de redacção da Rádio Bakhita, na capital do sul do Sudão, refere que o direito do sul do Sudão à autodeterminação “contou sempre com o apoio das Igrejas”.
Neste sentido, desde 21 de Setembro de 2010 até 16 de Janeiro de 2011, a Igreja Católica promove uma cadeia de oração por “um referendo pacífico”, para promover a paz e a reconciliação.
O missionário português, alerta que a separação poderá levar o regime islâmico a “nacionalizar os bens da Igreja no norte do país, principalmente as escolas que foram construídas para os sul-sudaneses”.
Neste momento, os bispos decidiram que o norte e o sul formarão uma única conferência episcopal, mesmo após a previsível independência do sul.
Calcula-se que a população sul-sudanesa seja de 8,3 milhões, segundo dados do censo de 2008, 85% da qual vive na pobreza.
O presidente sudanês, Omar al-Bashir, visitou na última Terça-feira a cidade de Juba, onde se encontrou com Salva Mayardit, o presidente do governo do sul do Sudão e primeiro vice-presidente da república.
No final, o presidente disse aos jornalistas que apoiava “um sul do Sudão independente através de um referendo pacífico e justo”, relata José Vieira, no seu blogue “Jirenna”, através do qual tem acompanhado os últimos acontecimentos na região.
No mesmo blogue, o padre Feliz da Costa Martins, missionário em Nyala, sul do Darfur (Sudão ocidental), dá conta do êxodo desordenado de vários sul-sudaneses.
“A razão principal para viajar nesta hora e desta forma é só e simplesmente uma: o medo de serem vítimas de represálias por parte do governo do norte”, escreve.
“A maior parte dos que se metem a caminho do sul sabem que terão de recomeçar a vida a partir do nada, na estaca zero”, prossegue.
A comissão do referendo do sul do Sudão revelou que o número de votantes recenseados é de 3,93 milhões.
Para o resultado do referendo ser validado, pelo menos 2,4 milhões de eleitores têm de votar.
OC