Religiosas libertam das marcas da prostituição

Congregação das Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade está há 50 anos em Lisboa

Lisboa, 28 mar 2012 (Ecclesia) – Há 50 anos que as mulheres marcadas pela prostituição em Lisboa encontram na Congregação das Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade uma casa que as ajuda a libertarem-se dos traumas e a reconstruírem a vida.

Quem bate à porta das religiosas são “raparigas que foram vendidas de um país para o outro, que casaram com um homem que nunca conheceram ou que chegaram a Portugal e foram aprisionadas, depois de lhes terem retirado os documentos e terem passado fome”, contou a irmã Maria João à ECCLESIA.

São 6 jovens, a maior parte africanas, algumas com filhos, “todas elas com problemas”, “abandonadas e maltratadas pela família” e que “tiveram tudo menos o que as faz sentirem-se queridas, amadas e dignas”, referiu.

A religiosa testemunhou nos três anos que leva como responsável da comunidade “nove casos de sucesso”, mulheres que conseguiram emprego e casa depois de terem sido “abandonadas, maltratadas e escorraçadas da família e do país”.

Uma delas, guineense, celebrou este ano o seu aniversário com as religiosas, e na oração final ofereceu-lhes um agradecimento que a irmã Maria João não esquece: “Vocês são a minha família. Foram vocês que me abriram a porta, sem me conhecer de nenhum lado. É a vocês que eu devo o que sou hoje”.

O tempo de permanência das mulheres na casa é de 18 meses, limite estabelecido pela Segurança Social, que pode ser prolongado se não encontrarem lugar para morar, explicou a religiosa de 43 anos.

[[a,d,2985,Emissão 25-03-2012]]A prioridade da congregação fundada em Espanha no ano de 1856 por Santa Maria Micaela é preparar as jovens para a “autonomia plena na sociedade”, com a ajuda de “um ambiente familiar” e da intervenção de psicóloga e assistente social.

“Andamos a tentar angariar fundos para poder dar-lhes outro tipo de vida, com qualidade mas sem luxos, para que conheçam uma realidade diferente”, contou a superiora, que salienta a importância dos voluntários ao serviço da instituição.

É com essa “boa vizinhança” que as religiosas contam com leigos que vão semanalmente ao Banco Alimentar, dão aulas de costura, e recolhem financiamento para a manutenção dos espaços e aquisição de equipamentos.

A congregação, que acolhe mulheres de todos os credos, propõe catequeses nos períodos mais importantes do ano católico, e este ano, no âmbito das comemorações do cinquentenário da chegada a Lisboa, está a preparar o batismo de uma jovem e de crianças que residem na casa.

A comunidade composta por três portuguesas e uma indiana, a mais velha com 83 anos, procura unir a adoração a Deus e a libertação das jovens, mas as religiosas não chegam para as necessidades: “Somos poucas e os gritos das mulheres vão clamando”.

A Quaresma, que termina na próxima semana, é para os católicos a época do ano mais favorável à intensificação da oração mas as solicitações nem sempre deixam cumprir este propósito.

“Por vezes estamos tão atarefadas que é difícil ter mais tempo”, afirmou a superiora, ressalvando que as irmãs não devem “desligar” a oração da atividade diária, à semelhança da fundadora, que “deixava muitas vezes a adoração ao Santíssimo Sacramento para a continuar na enfermaria”, cuidando das mulheres.

A reportagem com excertos da entrevista à irmã Maria João foi transmitida este domingo no programa ECCLESIA na Antena 1.

PRE/RJM

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