Religiosas em Rede contra o Trafico de Pessoas

A União Internacional de Superioras Gerais (UISG) organismo que congrega as Congregações Religiosas femininas, com sede em Roma, criou recentemente uma Rede chamada “Religiosas em Rede contra o Trafico de Pessoas”. Esta Rede está formada pelas Congregações Religiosas Femininas que se dedicam ao acolhimento e protecção às vítimas do Trafico de Pessoas, nos quatro cantos do mundo.

Em Portugal, a Conferencia dos Institutos Religiosos (CIRP) criou em 2007 uma Comissão de Apoio às Vitimas de Trafico (CAVITP) com a finalidade de conhecer e enfrentar as causas estruturais deste fenómeno no mundo e, em particular, no nosso país. Por outro lado, esta Comissão tem como objectivo específico: a sensibilização da sociedade e da própria Vida Religiosa, afim de ajudar a tomar consciência deste grave problema, bem como o empenhamento no combate a este crime contra a dignidade humana, protegendo e acolhendo as vítimas.

 Neste Domingo, dia 18 de Outubro, assinala-se o Dia Europeu de luta contra o Trafico de Seres Humanos.

Fenómeno de enorme complexidade, o Trafico de Seres Humanos desenvolve-se num clima obscuro e silencioso, o que fomenta a sua ‘invisibilidade’ convertendo-o num dos negócios mais lucrativos do mundo. Esta ‘invisibilidade’ dificulta enormemente o combate a este crime, bem como o resgate das vítimas desta actividade perversa, lançando-as no esquecimento da sociedade.

As Organizações Internacionais, públicas e privadas, Igrejas e ONGs, não poupam condenações a esta actividade criminosa, qualificando-a de “ vergonhosa, deplorável e abominável”. É consensual que estamos perante uma grave violação dos Direitos Humanos, na medida em que neste hediondo negócio existem práticas de esclavagismo: coação, maus-tratos, exploração, sequestro, perda de identidade, e, sobretudo, é retirado às vítimas um pressuposto indispensável da sua condição humana e que é a Liberdade.

O Relatório da ONU de 2006 afirmava “…na prática, nenhum país do mundo está livre do crime do tráfico de pessoas para exploração sexual e/ou laboral”.  É um drama transversal a todas as nações, seja como ‘países de origem ou de destino’ de pessoas vítimas de tráfico.

Portugal teima em negar – oficialmente – a existência entre nós de vitimas deste flagelo, preferindo falar em: prostituição, negócio do sexo, alterne, lenocínio. No entanto, as ONGs que operam no terreno…deparam-se com o olhar apavorado das vítimas e o seu ‘gemido’ pedindo libertação. Quase ninguém escuta o seu clamor.!

A camuflagem deste fenómeno envolto no manto de silêncio que paira a nível social, dificulta a identificação das vítimas e a aproximação à sua deplorável realidade. Resulta muito difícil chegar até elas, para as ajudar a sair das redes criminosas onde estão emaranhadas. Dada a sua especial vulnerabilidade social, caem no enredo e na sedução, deixando-se facilmente enganar pelos aliciadores. E quando dão por ela, estão asfixiadas na exploração, seja laboral ou sexual.

No caso das crianças e das mulheres quando traficadas com fins de exploração sexual, são obrigadas a sobre/viver no medo, condenadas a um silêncio constrangedor. Elas são, naturalmente, o “elo mais fraco” no meio deste xadrez criminoso. Mal amadas e mal nutridas, mal crescidas e mal ensinadas, convertem-se em presas fáceis de depredadores sem escrúpulos os quais ninguém tem mão nos rios de dinheiro que lucram com esta actividade.

Queiramos ou não, tenhamos mais ou menos consciência deste problema, todavia ele toca-nos a todos bem de perto. E não se pense que só atinge “ mulheres estrangeiras, em situação irregular, em contextos de prostituição forçada…”; bem pelo contrário, ele dá-se perfeitamente no seio das sociedades organizadas e ricas, nos locais mais recônditos e nas famílias mais insuspeitas.

Neste Dia Europeu de luta contra o Trafico de Pessoas, todos somos interpelados a demonstrar a nossa indignação e dizer: BASTA!

Ir. Mª Júlia Bacelar, secretária da CAVITP         

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