Religiões do mundo

“Religiões do mundo. Em busca dos pontos comuns” é a mais recente obra de Hans Kung a chegar ao mercado editorial português. Ao longo de 283 páginas, o autor procura introduzir-nos numa viagem ao mundo “fascinante, misterioso e complexo” das grandes religiões. Aos 76 anos, Hans Kung continua a gerar divisões no mundo católico. Antigo professor na Universidade Gregoriana de Roma e em Tubingen (Alemanha), foi proibido de leccionar pela Congregação para Doutrina da Fé, a qual considerou que ele se tinha distanciado da verdade de fé católica. O teólogo suíço reafirmou sempre, porém, a sua “ligação profunda à Igreja”. Neste livro, percebe-se de onde vêm muitos dos problemas que as investigações de Kung nas áreas do ecumenismo e do estudo das grandes religiões têm provocado. “Apesar de todas as diferenças de crenças, de doutrina e de ritos, também podemos perceber semelhanças, convergências e concordâncias”, escreve Kung sobre as grandes religiões. O objectivo assumido pelo autor não defende a fusaõ de todas as grandes religiões numa única doutrina, mas pretende levar o leitor a conhecer cada religião num olhar desde o presente, fundado numa visão “histórico-sistemática de conjunto”. “Após a leitura deste livro, prezado leitor, talvez chegue a compartilhar comigo esta convicção de que a meta de um entendimento universal entre as religiões não pode e não deve ser uma religião unificada no mundo inteiro”, alerta Hans Kung no prefácio. A utilidade do livro consiste em oferecer a informação básica para entender o mundo das religiões, distinguindo três grandes correntes: as religiões originárias da Índia (Hinduísmo e Budismo); as religiões originárias da China (Confucionismo e Taoísmo); as religiões originárias do Médio Oriente (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo). “Religiões do mundo” procura o inatingível: entender as religiões de modo objectivo, examinando contextos sociais, políticos e históricos que assistiram ao nascimento de inúmeras “formas de crença”. Lida aos olhos da Declaração “Dominus Iesus” (2000), da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja, esta obra não pode ser considerada católica. Hans Kung conclui afirmando que “a salvação do homem também é possível fora da Igreja Católica, ou mesmo fora do Cristianismo: o problema da verdade e o problema da salvação não são a mesma coisa”. A questão de fundo da obra é, no entanto, algo distinta desta querela teológica: a busca de um ethos básico universal. O autor procura mostrar que as grandes religiões apresentam um conjunto de imperativos éticos fundamentais, que podem ser relevantes para a paz e convivência dos povos. O conhecido lema “não haverá paz no mundo sem paz religiosa” é aqui retomado. Hans Kung desenvolveu o tema de que não podia ser verdadeira a religião ou ao menos a prática religiosa que não fomente ou preserve este ethos. Não é por acaso que a mensagem doutrinal das principais religiões do mundo encerra um desafio de paz: paz interior consigo mesmo, paz dos homens entre si.

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