Refugiados: Rotas exploradas por traficantes são «chaga atroz» no corpo da humanidade – Mário Almeida

Responsável português, que integra Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, alerta para situações «dramáticas» que empurram milhões de pessoas para longe de casa

Foto: Lusa

Lisboa, 24 set 2023 (Ecclesia) – Mário Almeida, responsável do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé), situações “dramáticas” do tráfico de pessoas no Mediterrâneo e na rota atlântica de África

“O número de pessoas afogadas no Mediterrâneo, este ano, já ultrapassou o do ano passado – e estamos a falar só do número de naufrágios registados, sem contar com os que morrem a tentar atravessar o deserto e também tudo o que se está a passar na rota atlântica de África”, disse à Agência ECCLESIA.

O entrevistado participou nos ‘Encontros do Mediterrâneo’, que se encerraram este sábado, em Marselha, com a presença do Papa.

O responsável alerta para a situação da rota, no Golfo da Guiné, “muito ativa, muito agressiva”, que leva milhares de jovens para o Senegal, até Marrocos, com a intenção de chegar às Canárias.

Aí, todos os dias, todos os dias, há naufrágios. Todas as semanas recebo imagens de mortes, contínuas, sem parar. A realidade é essa, é uma chaga atroz, porque uma grande parte destes nossos irmãos e irmãs estão nas mãos de traficantes”.

Mário Almeida alertou para a “amplificação” de discursos do medo e de movimentos contra os estrangeiros.

“O medo perante o que é diferente é algo natural, mas não é natural deixar-se dominar pelo medo, fecharmo-nos, erguermo-nos, colocarmos etiquetas nos outros”, declarou.

O membro do “ministério dos assuntos sociais” do Vaticano tem dedicado atenção particular ao tema das migrações, especialmente na África, uma questão “interdisciplinar”.

“Não é apenas uma questão de gestão de fluxos internacionais de pessoas, uma questão de segurança interna. É uma questão que toca os vários aspetos da sociedade”, assinala o entrevistado.

Os recentes desastres naturais no norte de África, particularmente na Líbia, recordam que as alterações climáticas “são uma das causas emergentes mais fortes, para as migrações”.

“Vemos isso, por exemplo, ao nível dos deslocados internos, na maior parte dos países africanos. Temos um grande movimento de pessoas, neste momento, porque em muitos locais a agricultura se tornou insustentável, pela falta de água, pelas pragas cada vez mais frequentes”, observa Mário Almeida.

O responsável alerta ainda para os conflitos que derivam das “disputas pelos recursos”, com consequências na vida de milhões de pessoas.

‘Livres de escolher se migrar ou ficar – Livres de escrever o próprio futuro’, é o tema Dia do Migrante e Refugiado 2023, que a Igreja Católica celebra este domingo, e está no centro da emissão do Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública.

Para Mário Almeida, a escolha do Papa recorda que muitas pessoas “não têm nenhum de migrar, mas veem-se forçadas a isso, pelas circunstâncias”.

“Os migrantes fogem por causa da pobreza, do medo e do desespero, a grande maioria deles”, adverte.

OC

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Agência ECCLESIA

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