Refugiados: Portugal recebe grupo de 24 pessoas do programa de relocalização

Religiosa que integra comissão executiva da Plataforma de Apoio aos Refugiados diz que atual situação revela baixo «grau de humanidade»

Lisboa, 17 dez 2015 (Ecclesia) – Portugal recebe hoje o primeiro grupo de refugiados de diversas nacionalidades, vindos de Itália e da Grécia, no âmbito do Programa de Relocalização de Refugiados na União Europeia que vão ter à sua espera responsáveis da Administração Interna.

Num comunicado enviado à Agência ECCLESIA, o Ministério da Administração Interna informa que o primeiro grupo de refugiados é constituído por 24 cidadãos de várias nacionalidades – Eritreia, Sudão, Iraque, Síria e Tunísia – e que se encontram, nesta altura, na Grécia e em Itália.

O primeiro grupo de refugiados que vai ser acolhido no âmbito do Programa de Relocalização de Refugiados na União Europeia vai ser distribuído por seis cidades: Lisboa; Cacém; Torres Vedras, Marinha Grande; Penafiel e Vinhais.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a irmã Irene Guia considera que “continua” a ser “incompreensível toda a lentidão” do processo de acolhimento às pessoas que fogem da guerra e da morte nos seus países de origem.

“Parece que queremos resolver primeiro uma crise na região, que tem de ser resolvida, mas entretanto há milhões de pessoas que estão de facto a precisar de salvação”, observa a religiosa da congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus.

A consagrada revela ainda que “nunca” sentiu “tantos sintomas da cultura da morte” como agora e destaca a ação e palavras do Papa Francisco, “apologista de levar cada um ao melhor de si” e os “riscos que tem tido”.

“Creio que esta questão dos refugiados também está a revelar qual o grau de humanidade que temos. Eu diria um grau bastante baixinho”, indica a irmã Irene Guia.

A religiosa recorda que uma das características da humanidade, “ou do coração, é salvar”: “Sempre que víamos alguém em perigo estendíamos a mão, não o estamos a fazer".

A irmã que integra a comissão executiva da PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados, que tem capacidade acolhimento para “mais de 600 pessoas”, destaca que esta situação devia fazer as pessoas refletir, “não a refletir sentados”, porque “obrigatoriamente” quando se começar a agir vai-se perceber o que se está a “falhar agora”.

“Para mim torna-se cada vez mais incompreensível, toda esta lentidão quando se trata de seres humanos. Faz mesmo confusão que continuemos demagogicamente a fazer um tipo de ping-pong de argumentação – se acolhemos, o que fazemos”, desenvolve a entrevistada que se revela incomodada por “ter que invocar o Direito Internacional” para dizer que há “obrigação a acolher”.

A irmã Irene Guia, que passou duas semanas em visita ao Iraque e ao Líbano, contextualiza que não pensa apenas nos refugiados e deslocados internos destes países mas “todos aqueles que estão na terra” que está a encontrar “muito menos possibilidades e muito menos meios” de poder atender estas pessoas na “urgência” em que se encontram.

“Nos países que visitei a pobreza é muito maior. Nós somos os que estendemos o estandarte da bandeira dos Direitos Humanos e essa bandeira está muito rasgada”, alerta, fazendo diferença entre “migrantes económicos” e os refugiados porque cerca de 80% quer regressar ao seu país., “é outra demagogia”.

Neste contexto, a religiosa, que está na educação “há muitos anos”, revela que tem uma “preocupação grande” nesta área, que lhe “faz confusão”, sobre que geração está a crescer com a sociedade atual “tão fria para poder estender uma mão”.

“Como podemos explicar a uma criança que ama só determinado ponto, cuidado, quando se está a ver o outro a afundar e não digo vamos salvar mas deixa morrer”, sublinha.

PR/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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