Refugiados/Portugal: JRS e Salesianos uniram esforços para abrir novo centro de acolhimento, «ao serviço de quem mais precisa» (c/fotos)

«Quando se trabalha efetivamente com estas populações, somos até melhores cristãos» – Padre Tarcízio Morais

Vendas Novas, 20 jun 2024 (Ecclesia) – O JRS-Portugal e a Província Portuguesa dos Salesianos uniram esforços para criar um Centro de Acolhimento para Refugiados, inaugurado hoje em Vendas Novas, numa parceria “ao serviço de quem mais precisa”.

“Quando se trabalha efetivamente com estas populações, somos até melhores cristãos, somos melhores portugueses, somos melhores pessoas e melhores cidadãos, porque nesse confronto de realidades percebemos a riqueza do que é o encontro com o outro, verdadeiramente outro”, disse à Agência ECCLESIA o provincial da Congregação Salesiana, padre Tarcízio Morais.

O espaço, com capacidade para até 120 pessoas, foi criado nas instalações do antigo Colégio São Domingos Sávio, dos Salesianos, que se encontrava desativado.

“Ninguém perde quando trabalhamos em conjunto e quando sentimos também, se quisermos, uma sinodalidade arquitetónica e espacial, para percebermos como edifícios, estruturas às vezes muito pesadas, muito difíceis de gerir, podem ter novas funcionalidades”, precisou o responsável.

Para o padre Tarcízio Morais, estes grandes edifícios que deixaram de servir a missão com que foram criados podem ser colocados ao serviço da “realidade social, da sociedade, do mundo, da contemporaneidade, da vida”.

“Tentamos recriar aqui uma funcionalidade que possa estar ao serviço de quem mais precisa”, acrescentou, falando da parceria com o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) como uma “oportunidade”.

Se é resposta ao outro, às suas necessidades, às suas pobrezas, às suas limitações, estamos a ser Igreja, estamos a ser esta comunidade que abre e se abre à experiência do encontro com o outro”.

Padre Tarcízio Morais Foto: Agência ECCLESIA/HM

O provincial salesiano destaca o facto de o espaço de acolhimento aos refugiados oferecer ainda “uma resposta também educativa, social, de projetação de vida ou reprojetação de vida para as vidas destas famílias e destas pessoas”.

Este projeto foi financiado pelo Fundo de Asilo, Migrações e Integração e teve uma coparticipação de 25% do Estado português, integrando um conjunto de respostas de acolhimento que o JRS está a coordenar, como a estrutura de acolhimento no antigo Seminário de Cristo Rei, dos Redentoristas, em Vila Nova de Gaia (Diocese do Porto), noutra parceria com uma congregação religiosa.

O diretor-geral do JRS-Portugal, André Costa Jorge, disse à Agência ECCLESIA, durante a inauguração, que o novo centro.

“Hoje é o Dia Mundial dos Refugiados e quisemos assinalar esta data com um sinal claro, em primeiro lugar por parte de vários organismos da Igreja, da arquidiocese, de que não basta apenas estar de acordo com as palavras do Santo Padre, ele desafia-nos a partirmos para a ação”, observou.

Após dois anos de trabalho, o edifício abre-se à comunidade local, projetando a Igreja Católica como “agente de acolhimento e de hospitalidade” na promoção de “concidadãos de um país aberto, multicultural, um país que promove a boa convivência e o diálogo entre todos”.

A última coisa que devemos fazer na Europa é criar zonas-bolha, isto é, zonas-guetos, ou zonas onde aqueles que chegam e aqueles que já estão não comunicam. O objetivo é sempre criar comunidades de hospitalidade, isto é, lugares de encontro, para que aqueles quatro verbos de que o Papa Francisco fala – acolher, promover, integrar e acompanhar – possam ser uma realidade. E é isso que este centro procura fazer”.

A cerimónia de bênção e inauguração das instalações contou com a presença de D. Francisco Senra Coelho, arcebispo de Évora, autoridades políticas e representantes da sociedade civil.

Hamed Hamdard Foto: Agência ECCLESIA/HM

O programa incluiu o testemunho pessoal de uma pessoa refugiada, Hamed Hamdard, natural do Afeganistão, que à Agência ECCLESIA fala do “pesadelo” que viveu ao deixar o seu país.

“Encontramos muitas pessoas boas, que a nossa família chama de anjos, as pessoas portuguesas, que realmente pegaram na nossa mão, mostraram-nos o caminho em frente, ajudaram a integrar-nos na sociedade”, relata.

Hamed Hamdard sente-se “mais português do que nunca”, com a sua família, três anos após a sua chegada, “por causa das pessoas em volta, da sociedade local, e das bonitas pessoas portuguesas”.

O refugiado afegão era funcionário do Governo, mas teve de sair do país em agosto de 2021, apos a chegada ao poder dos talibãs, deixando tudo para trás.

“Esse foi o processo mais doloroso da nossa vida. Agora, eu diria que recuperamos mais de 50%, por causa do amor e respeito que a comunidade portuguesa nos deu”, assinalou, apontando ao compromisso pessoal e familiar de ser “os cidadãos mais responsáveis” deste país.

HM/OC

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