Coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados realça um trabalho que é para reforçar e destaca o papel relevante das instituições da Igreja Católica
Lisboa, 11 jan 2018 (Ecclesia) – A Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) em Portugal, que junta 400 instituições sociais e civis incluindo da Igreja Católica, está empenhada em reforçar a sua participação no programa de ajuda aos refugiados da União Europeia.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Rui Marques, coordenador da PAR, faz “um balanço positivo” do trabalho iniciado em 2015, aquando do lançamento do programa de reinstalação de refugiados por parte da União Europeia.
Aquele responsável salienta que “Portugal e os portugueses mostraram que sabem acolher”, como mostram os números da primeira etapa de acolhimento: cerca de 1600 refugiados apoiados, dos quais 650 através da PAR e metade destas pessoas já em situação de autonomia.
Rui Marques frisa no entanto que esta constatação “não serve nem para fechar o capítulo de responsabilidade” que o país deve continuar a ter “nem para dizer missão cumprida”.
“Há muito trabalho a fazer e não há nenhuma desculpa para que não o continuemos a fazer no futuro”, salienta aquele responsável, que vai coordenar este projeto durante mais um mandato e espera contar com o envolvimento de mais instituições ao serviço desta causa.
Entre as 400 instituições atualmente incluídas naquele organismo, “com competências e identidades muito distintas”, estão 130 instituições anfitriãs que se disponibilizaram para acolher famílias de refugiados e cuidar destas pessoas durante dois anos.
Mas o objetivo “é desafiar novas instituições a fazerem esta experiência única de serem zona e território de hospitalidade, que saibam acolher quem precisa de um abrigo temporário”, realça Rui Marques, que aproveitou para destacar o envolvimento das instituições da Igreja Católica.
“Elas têm tido um papel muito relevante mas temos assistido que existiriam muito mais instituições que poderiam cumprir este papel”, apontou.
Rui Marques foi reconduzido como coordenador da PAR numa assembleia geral onde foram revelados ainda outros números sobre o trabalho concretizado ao longo dos últimos dois, três anos.
Das 141 famílias acolhidas, no âmbito do projeto ‘PAR Famílias’, 29 por cento foram recebidas por paróquias,18 por cento por congregações religiosas e 30 por cento por fundações e associações.
No que diz respeito às 654 pessoas inseridas neste projeto, estão em causa 297 adultos (idade média de 33 anos), e 357 crianças (média de 7 anos).
Atualmente restam “41 famílias” ainda no programa em processo de autonomização, mas destas “só oito” é que não têm um elemento a trabalhar.
Um balanço favorável que, de acordo com Rui Marques, se estende a outros campos de integração dos refugiados
“Quando pensamos na educação ou na saúde, onde por exemplo existe 100 por cento de taxa de integração, quer das crianças no sistema de ensino, quer das famílias no sistema nacional de saúde, os resultados são positivos. Com isto não quero dizer que não haja uma grande margem de melhoria”, admite aquele responsável, pensando em famílias que “poderão não ter tanta capacidade” de autonomia, “por motivos de doença, de idade, ou de algum tipo de trauma mais pesado”.
“Mas aí vigora o mesmo princípio que na sociedade portuguesa, em aqueles que não o conseguem beneficiam da solidariedade de toda a comunidade”, acrescentou.
A maior parte chegou a Portugal proveniente da Grécia e também de Itália, estando em causa sobretudo refugiados de nacionalidade síria.
Na sequência do anúncio do Governo em acolher nos próximos meses mais mil refugiados, no âmbito da adesão a um novo programa de relocalização da UE, a PAR está empenhada em abrir o acolhimento a famílias vindas de outros contextos, fora do espaço europeu, e também a outras nacionalidades.
Para isso pretende intervir ativamente nos critérios de elegibilidade que regem a determinação dos povos a apoiar, um processo que considera marcado pela “exclusão e injustiça”.
“O processo ao nível da União Europeia é irracional e ilógico, porque decorre de um processo administrativo de quantas pessoas têm ou não têm resposta positiva ao seu pedido de asilo. Isso faz com que se tenha deixado de fora nacionalidades que têm tanto direito e merecem tanto o nosso apoio quanto os sírios”, realça Rui Marques, dando como exemplo a situação dos refugiados afegãos.
“Nós temos chamados muito a atenção para esta questão, porque os cidadãos afegãos que sofrem também das consequências de uma guerra já mais longa do que a guerra da Síria, que tem mais mortos do que a guerra da Síria, e que não têm condições de segurança para regressarem ao seu país, deviam ter as mesmas condições de apoio”, complementa.
Além do programa ‘PAR Famílias’, em território nacional, a Plataforma de Apoio aos Refugiados mobilizou-se na ajuda ao trabalho no exterior, em especial nos campos de relocalização da Grécia, onde só em 2017 chegaram cerca de 30 mil refugiados.
Para este trabalho específico, desenvolvido nos campos de Lesbos e Atenas, a PAR contou com o envolvimento de cerca de 60 voluntários.
JCP