Refugiados: Na Sérvia «sem casa para onde regressar»

A família Basheer está entre os milhares de refugiados sírios que têm chegado aos Balcãs na esperança de um futuro diferente

Cidade do Vaticano, 17 set 2015 (Ecclesia) – Milhares de refugiados sírios continuam a chegar à Sérvia, em busca de uma passagem para a Europa e de uma vida nova que permita esquecer o drama da guerra que dilacera o seu país.

É caso da família Basheer que teve de sair da sua pátria depois de ter visto a sua casa ser completamente arrasada por um bombardeamento, na cidade de Alepo.

“A minha filha Omama tem saudades de casa, mas como é que isso pode ser se já não há mais casa para onde regressar?”, frisa o pai, Khaled Basheer, numa entrevista concedida a Stefan Teplan, da Cáritas Internacional.

“De certa forma até podemos dizer que tivemos sorte. Mas sem teto, fomos obrigados a viver numa tenda nos subúrbios durante quase um ano”, realça.

Depois de quase terem sido tocados pela morte, e “com medo de mais ataques bombistas”, Khaled, a sua mulher Jayal e os quatro filhos, um rapaz, Mohamed com 9, e três meninas, Omama com 8, Ronya com 2 anos e meio e Joud, uma bebé de apenas seis meses, puseram-se ao caminho movidos pela esperança num futuro diferente.

A exemplo de muitos outros refugiados e migrantes, os Basheer seguiram primeiro de avião até à Turquia, depois fizeram por mar a ligação com a Grécia e por fim tomaram uma rota terrestre para os Balcãs.

“Tive de pedir dinheiro emprestado para o voo a partir da Síria e agora tenho de o pagar. Mas estamos quase sem dinheiro porque os traficantes que nos trouxeram para a Grécia ficaram quase com tudo”, lamenta Khaled.

Só a travessia entre a Turquia e a Grécia, cerca de 40 minutos num barco de borracha sobrelotado, custou 5 mil dólares, perto de 4500 euros, sendo que Khaled e uma das suas filhas, Ronya, não tiveram lugar no bote.

“Tive de vir a nada ao lado do barco, com ela em cima de mim, com os braços à minha volta e a cabeça encostada ao meu pescoço. O barco era lento e assim consegui acompanhá-lo. Se isto não tivesse resultado, a minha mulher e as outras crianças teriam de esperar por nós na costa grega”, contou o pai.

Duas semanas depois de terem saído da Síria, os Basheer chegaram finalmente à Sérvia onde ficaram instalados num campo de refugiados em Kanjiza, perto da fronteira com a Hungria.

A próxima etapa do plano é conseguir entrada na Alemanha: “O meu pai prometeu-nos um bom lar lá. E que vamos encontrar boas pessoas”, refereOmama.

“Isto é o que eu digo para a consolar”, confidencia Khaled, sublinhando que “o que mais quer é que tudo se resolva e que tenha trabalho” para sustentar a sua família.

No campo de refugiados, o trabalho das organizações humanitárias tem sido essencial para que as pessoas que continuam a chegar tenham o mínimo de condições para viver, enquanto definem o seu futuro.

“Estamos muito agradecidos a estas instituições, como a Cáritas, que nos ajudam naquilo que podem”, salienta Khaled.

E chega o momento dos Basheer fazerem de novo as malas, para tomarem um autocarro que os vai levar até à fronteira com a Hungria.

“Vemo-nos na Alemanha”, atira Omama, acenando à medida que a sua família vai entrando, juntamente com outras dezenas de refugiados que também vão partir nesse dia.

ST/JCP

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