Bárbara deixou o emprego para estar «onde é preciso», Madalena destaca uma das «maiores crises humanas» atuais
Henrique Matos, enviado da Agência ECCLESIA à Grécia
Lesbos, Grécia, 20 fev 2017 (Ecclesia) – Bárbara Araújo e Madalena Souto Moura são duas voluntárias portuguesas atualmente a trabalhar com refugiados na ilha grega de Lesbos, através da Plataforma de Apoio aos Refugiados.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Bárbara Araújo realça a dificuldade mas também a esperança que marca o dia-a-dia destas pessoas, vindas de países como a Síria, o Irão e o Iraque.
“Pessoas que vieram a fugir de uma guerra, miúdos que já não são miúdos porque precisam que amadurecer muito cedo, pessoas que carregam muita dor e tristeza no coração mas no meio disso amor, alegria, partilha, e é bonito ver que há esperança”, frisa a voluntária.
Atualmente a coordenar a missão da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) em Lesbos, Bárbara Araújo é formada em Ciências Políticas e Desenvolvimento Internacional e passou pela Colômbia numa investigação sobre meninos-soldado.
Trabalhava em Finanças numa multinacional quando decidiu deixar tudo e ir para a Grécia, em 2016.
“Fazer o que fazemos, muitas vezes é super intenso, emocionalmente é um desgaste muito grande, mas ao mesmo tempo é mesmo preciso”, sustenta a voluntária portuguesa, que diz “não conseguir imaginar estar noutro sítio”.
Além de apoiar nas necessidades mais básicas, como a roupa, a alimentação e teto, os voluntários presentes em Lesbos ajudam os refugíamos a lidar com o tempo de espera por um destino, que “é muito longo”, e que, muitas vezes, resulta em situações de angústia e depressão.
Sobre a realidade grega, que tem estado a receber muitos milhares de Refugiados, Bárbara Araújo salienta que a população “também sofre com isto”, ainda que “tentem ter o coração aberto” para o acolhimento.
“A maior parte dos gregos quer ajudar, mas a Grécia também precisa de ajuda, e nesse sentido acho que a Europa tem falhado porque virou as costas à Grécia, está a virar as costas aos refugiados, por medo e ignorância porque as pessoas têm medo que venha o terrorismo, esquecendo-se do que estas pessoas estão a fugir”, alerta aquela responsável.
Para a voluntária da PAR, é fundamental que a Europa consiga “abrir as suas portas” e fazer com que estas pessoas “se sintam seguras”.
“Elas merecem uma outra oportunidade e são pessoas que podem contribuir para a sociedade europeia”, complementa.
Madalena Souto Moura, outra voluntária portuguesa, trocou o Porto pela Grécia para contribuir na resolução daquela que considera ser “uma das maiores crises humanas deste momento”.
“Viemos para ajudar mas eles ajudam-nos muito também e ensinam-nos muito, sendo pessoas que passaram coisas que nem imaginamos, aprendemos muito com a força deles”, aponta a jovem.
A grande parte dos refugiados que chega a Lesbos tem como sonho chegar a Atenas ou a outras grandes cidades europeias e construir aí uma vida melhor.
No entanto, muitos acabam por não conseguir esse objetivo, sobretudo os que são provenientes de outros países que não a Síria ou o Iraque.
Muitas dessas pessoas, vindas de outros países da Ásia e de África, são deportadas para a Turquia, ao abrigo do acordo com a União Europeia.
“Há famílias e pessoas que estão aqui em Lesbos por exemplo já quase há um ano, o que não era suposto. Vão se apercebendo que aqui também não é um mar de rosas, embora seja melhor do que o sítio de onde eles vieram”, complementa.
Madalena vai permanecer em Lesbos pelo menos mais dois meses e trabalha neste momento sobretudo com crianças, jovens e mulheres, procurando que o tempo de espera num campo de refugiados, que por vezes parece “uma autêntica prisão”, não seja "tão doloroso".
HM/JCP