Equipas de acolhimento de «A Rede» enfrentam dificuldades entre senhorios no mercado de arrendamento
Lisboa, 25 set 2023 (Ecclesia) – Tamim Ahmadi é refugiado afegão e chegou a Portugal, juntamente com os pais e a mulher, para reconstruir a vida sem sobressaltos e em plena liberdade, mas enfrentou a dificuldade de encontrar uma habitação para viver.
“A grande diferença para mim é que agora temos paz, estamos calmos e não temos que nos preocupar se nos acontece algo. Sentimo-nos num país completamente seguro e isso é o principal para nós e a minha família está segura”, conta à Agência ECCLESIA.
A ajuda foi encontrada junto do Gabinete de Habitação do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) que, com equipas de acolhimento, acompanha pessoas migrantes e refugiadas, em situação social mais desfavorável, na busca de uma solução permanente de habitação.
“O nosso gabinete procura casas onde estas famílias possam habitar, para começar o seu novo projeto de vida e temos o trabalho de mediação com os senhorios – traduzimos o contrato de arrendamento, fazemos ligação dos serviços de água, equipamos as casas – temos toda uma equipa dedicada a trabalhar em articulação com a restante equipa do JRS, e com toda a comunidade local para onde estas famílias se vão mudar”, explica Joana Toscano, responsável pelo Gabinete de Habitação do JRS.
Mas este é um trabalho difícil, testemunhado por Vasco Pessanha, que integra a equipa desta resposta, uma vez que a “realidade portuguesa sobre a habitação está complicada”, onde “ter casa é um luxo” e, na procura de casas disponíveis para integrar A REDE, recebem muitos nãos.
“Começa a haver (solidariedade), e percebemos isso com o conflito na Ucrânia, com muitas pessoas a abrir as suas portas para acolher pessoas que fugiam do conflito, mas com migrantes e pessoas refugiadas, continua a ser difícil. Acompanhamos as vagas de migração para Portugal, que não são apenas pessoas numa situação desconfortável – temos pessoas a vir numa situação confortável – o que torna os preços do arrendamento incomportável para quem não tem essa capacidade”, traduz Vasco Pessanha.
Nas cidades de Braga, Guimarães, Porto, Lisboa, Viseu e Coimbra A REDE já conseguiu senhorios disponíveis para arrendar casa a famílias refugiadas e o acompanhamento das equipas de acolhimento permite desenvolver “comunidades de hospitalidade”.
“O objetivo é que estas pessoas sejam nossos vizinhos, e que todos percebam o bom que é estarem ao nosso lado pessoas de outras nacionalidades, com outras formas de viver e de estar e, por outro lado, puderem aprender com os vizinhos portugueses, mais rapidamente, a cultura portuguesa, para se sentirem integradas e acolhidas. Acreditamos que as comunidades, as pessoas são o melhor caminho para acolher outros porque conhecem a cidade, os serviços, e podem ajudar. São os nossos braços e pernas que nos ajudam a procurar o trabalho e o emprego para ajudar na autonomia das pessoas”, explica Joana Toscano.
Tamim Ahmadi era professor no Afeganistão e trabalhava com judeus alemães na área financeira; em Portugal conseguiu emprego num armazém, mas sonha um dia poder fazer um mestrado na sua área de estudos e poder continuar a carreira que tinha iniciado no seu país natal antes de 15 de agosto de 2021.
“Somos quatro pessoas nesta família e eu sou o único que tem trabalho. Não há outra opção para mim, tenho que trabalhar seja no que for. Por vezes é difícil lidar com isto quando estava no Afeganistão tinha uma carreira mas tive de recomeçar aqui a reconstruir esta carreira. Não é fácil como quando estava no Afeganistão: tenho uma nova língua e tenho que continuar a minha formação – fazer o mestrado é agora o meu objetivo mas não tenho tempo para o fazer, tenho de trabalhar”, lamenta.
André Costa Jorge explica que a criação de condições de acolhimento de quem os procura tem passado por criar parcerias com a Igreja, como a que aconteceu no “antigo colégio, em Vendas Novas”, onde o JRS está a adaptar um centro de acolhimento com capacidade para 100 pessoas, ou como também, “em parceria com os Missionários Redentoristas” se adaptou o antigo Seminário de Cristo Rei, em Vila Nova de Gaia, para acolher centenas de pessoas em resposta ao conflito na Ucrânia mas também recebendo pessoas do Afeganistão.
“Quanto tempo demora a formar um cidadão português? Se olharmos para os nossos filhos percebemos que são precisos muitos anos. Quando acolhemos uma pessoa adulta de outro país não podemos esperar que esta pessoa se torne um cidadão pleno no nosso país rapidamente. Há que ter investimento por parte da sociedade e do Estado para que estas pessoas possam ser cidadãos plenos”, explica o diretor do JRS.
A história de Tamim Ahmadi e o trabalho de “A Rede” foram o tema do programa 70×7 desde domingo, emitido na RTP2.
HM/LS