Refugiados: Conferência anual da Comissão Justiça e Paz destacou experiência positiva do acolhimento em Portugal

Iniciativa juntou representantes de várias religiões

Lisboa, 27 nov 2017 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz, da Igreja Católica, promoveu em Lisboa a sua conferência anual centrada no tema “Europa, Migrações e Diálogo de Culturas”, que permitiu fazer uma radiografia ao acolhimento aos refugiados em Portugal.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o presidente da CNJP deu conta do seu agrado pela forma como o país, apesar das “dificuldades”, tem dado o seu contributo para esta causa.

“Mesmo o facto de por vezes estes refugiados deixarem o nosso país não nos faz esmorecer”, sublinhou Pedro Vaz Patto, que realça que em causa está “um amor gratuito”, que “não precisa de agradecimento”.

Entre dezembro de 2015 e outubro deste ano, cerca de 1500 refugiados foram acolhidos por Portugal, através da Plataforma de Apoio aos Refugiados.

De acordo com os últimos dados, cerca de 600 já terão deixado o nosso país rumo a outras paragens.

Joana Rigato foi uma das pessoas que apresentou o seu testemunho acerca do modo como o acolhimento aos refugiados tem sido feito, através de uma experiência pessoal que envolveu também a sua família.

“Tivemos muita sorte com a família que acolhemos porque são pessoas maravilhosas. Mesmo a parte das diferenças culturais não tem sido de todo um problema, só uma riqueza, eu tenho filhos pequenos e neste momento o mundo deles é muito mais alargado do que o mundo português, cristão ou ocidental, é um mundo que inclui comidas diferentes, línguas diferentes, formas diferentes de rezar e de estar”, exemplificou.

Para Joana Rigato, o que “é mais importante” fomentar nesta relação com os refugiados é acolher a diferença mas também fomentar o que existe “em comum”, e que “é imenso”, a começar pela “forma de amar e de acolher o outro”.

A conferência anual da CNJP, que contou com apresentação do coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados, Rui Marques, proporcionou também uma avaliação ao papel que as religiões têm tido em todo este esforço, e na promoção da paz, se são “parte do problema ou parte da solução”.

A interpelação foi colocada em forma de um painel, que contou com a participação de Esther Mucznik, da Comunidade Israelita de Lisboa, do professor José Borges de Pinho, da Universidade Católica Portuguesa, e do imã da Mesquita de Lisboa, o xeque David Munir.

“Muitas vezes as religiões são confundidas como um fator de identidade, que congrega determinado grupo contra outro grupo. Neste contexto em que é incontornável a presença de pessoas de várias religiões nos países, temos de valorizar este diálogo inter-religioso”, salientou Pedro Vaz Patto.

Do lado da comunidade muçulmana, o xeque David Munir afirmou um não firme “aos muros”, que implica trabalhar no diálogo e na abertura aos outros, sempre na perspetiva também de “prevenir” desencontros.

“E prevenir significa o quê? Significa convidar as pessoas, visitar o seu espaço sagrado, pô-las muito à vontade, e no fim conviver com elas”, salienta aquele responsável.

A Mesquita de Lisboa tem sido um espaço aberto à visita, por parte de membros de outras comunidades religiosas, de jovens e crianças das escolas, entre outras instituições.

“É um bom sinal de abertura de ambas as partes, tanto da nossa comunidade como por parte da sociedade”, frisa o xeque David Munir, que tem procurado levar a experiência positiva em Portugal para outros países.

HM/JCP

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Agência ECCLESIA

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