Refugiados: Burocracia europeia contrasta com voz do Papa Francisco

Coordenador da Plataforma de Apoio aos Refugiados «não entende» política comunitária

Lisboa, 11 jan 2016 (Ecclesia) – O coordenador da PAR – Plataforma de Apoio aos Refugiados analisa positivamente o trabalho desenvolvido até agora em Portugal, mas lamenta a falta de vontade e capacidade dos políticos europeus nesta matéria.

“O processo de recolocação [de refugiados] a partir de Itália e da Grécia tem sido lamentavelmente lento. Portugal acolheu só 24 refugiados de uma disponibilidade manifestada de 4500”, explica Rui Marques à Agência ECCLESIA, através do Programa de Relocalização de Refugiados na União Europeia, a 17 de dezembro.

Duas famílias com crianças foram recebidas por instituições que integram a PAR, a Comunidade Islâmica e a Fundação Maria Dias Ferreira, e tem sido um processo de integração “que tem corrido bem, sem nenhum sobressalto”.

A Plataforma de Apoio aos Refugiados, uma organização da sociedade civil com mais de 300 entidades de “várias confissões religiosas e aconfessionais”, tem uma capacidade de acolhimento para “mais de 600 lugares disponíveis”.

O coordenador da PAR considera que há “burocracia europeia, incapacidade”, e, essencialmente, “falta de vontade dos Estados-membros”, afinal no total foram recolocadas “pouco mais de 200 pessoas”.

“Não temos nenhuma informação quanto a novas datas de chegarem mais pessoas, o que é um sinal negativo. Espantosamente, na União Europeia não são capazes de organizar a recolocação de 160 mil pessoas”, desenvolve o entrevistado.

Rui Marquês destaca a “importância” que o Papa Francisco tem tido na questão dos refugiados, desde o início do pontificado: “A sua primeira viagem a Lampedusa (Itália) deu um sinal muito importante ao mundo.”

“Hoje, o Papa é a principal e mais importante voz internacional da defesa da causa dos refugiados”, analisa.

Francisco publicou a mensagem «Os emigrantes e refugiados interpelam-nos. A resposta do Evangelho da misericórdia» para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado 2016, celebrado pela Igreja Católica a 17 de janeiro.

Para o coordenador da PAR é “muito interessante” e destaca, desde logo, “a interpelação de não se ficar indiferente” a uma crise que “não é momentânea”.

O Papa defende o “direito a não emigrar» e para o entrevistado “é emergente” começar já a “reduzir as condições negativas que obrigam que as pessoas a emigrar ou fugir”.

Os portugueses escolheram «refugiado» como palavra do ano 2015, o que para o coordenador da PAR “é de saudar” porque centraram-se no “essencial da dimensão humana”, do “drama das pessoas que foram obrigadas a fugir da sua terra”.

Segundo Rui Marques, “importa” também encontrar nessa palavra razões de “esperança, resiliência, coragem” e observar as palavras “associadas” que ficaram em segundo e terceiro lugar, respetivamente, «terrorismo» e «acolhimento».

“Para além das diferenças religiosas e culturais que existem no mundo e são uma riqueza existe algo muito mais importante que é a nossa natureza humana, que é comum e partilhada”, observa.

A Plataforma de Apoio aos Refugiados, uma resposta da sociedade civil, tem dois projetos: O PAR Famílias é o acolhimento e integração de refugiados.

O PAR Linha da Frente consiste na recolha e entrega de fundos, e neste âmbito foram entregues hoje 200 mil euros ao presidente da Cáritas do Líbano, que está em Portugal, da “generosidade dos portugueses em tempo de dificuldades”.

“Decidimos prolongar esta campanha até final de março para reunir mais apoios. As dificuldades são enormes, o Líbano tem 4 milhões de habitantes e 1 milhão e meio de refugiados”, adianta Rui Marques.

PR/CB/OC

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