Referendo II

Uma mobilização organizada, possivelmente a maior mobilização de leigos desde os tempos da Acção Católica Arrastando bizarrias de alto riso, disparates incomensuráveis, ignorâncias arrogantes e, ao mesmo tempo, reflexões muito sensatas, corre o rio da nossa pequena história em direcção ao referendo do próximo dia 11 de Fevereiro. E, cumpre dizer, tem águas muito saudáveis, intervenções inteligentes e debates enriquecedores para o tempo comum da democracia. Não se esqueça que estamos no segundo tempo do mesmo jogo. O povo português já se pronunciou, em referendo, sobre o aborto. E disse não. Tivera dito sim em 1998 e ficaria aferrolhado pelos zelotas do direito e de alguma esquerda que ainda não percebeu em que país vivemos. Convém, por isso, no meio do ruído, lembrar que estamos a perguntar ao mesmo povo a mesma coisa pela segunda vez. Haja paciência para uma democracia assim. Haja! Mas há aspectos interessantes. Estamos perante uma mobilização organizada. Possivelmente a maior mobilização de leigos desde os tempos da Acção Católica. E desta vez é por uma causa: a causa simples e concreta da vida. Oficialmente a Igreja reafirma a sua inequívoca posição pelo não, na pergunta que é feita no referendo. Mas cada diocese, bispo, paróquia ou movimento, assume os seus dinamismos sem agressão e com respeito por aqueles, mesmo cristãos, que enveredam por outro caminho. O Patriarca de Lisboa enviou uma carta aos Párocos, pedindo que, como “presidentes da assembleia litúrgica, se limitem, durante a mesma, à apresentação da doutrina da Igreja sobre o respeito pela vida. A celebração litúrgica não pode ser lugar de campanha…” Plenas de sensatez e respeito, estas palavras não podem ser tomadas, como pretendem alguns comentadores, por alheamento à campanha que está a posicionar-se neste momento no terreno da opinião pública. O Cardeal Patriarca acrescenta que “isto não impede que o Pároco e a comunidade cristã organizem noutros momentos e espaços debates de esclarecimento… acerca das várias questões que este referendo levanta.” Eis uma orientação sábia e oportuna num momento de mobilização para uma causa que não é um capricho moral ou uma corrente de circunstância. E à volta da qual pululam falácias e ilusionismos numa confusão ardilosa de falsa modernidade. Como se a vida fosse uma questão do passado. António Rego

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Agência ECCLESIA

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