Recuperar a religiosidade dos Caminhos de Santiago

O professor da Universidade Católica Portuguesa no Porto, Arlindo de Magalhães, defendeu ontem em Barcelos que é urgente recuperar o sentido religioso dos Caminhos de Santiago em Portugal que, segundo sustentou, está a perder-se. O alerta foi deixado no decorrer do seminário “Traslatio – Herança do Caminho Português de Santiago”, uma iniciativa organizada pelas Câmaras de Barcelos, Ponte de Lima, Paredes de Coura e Valença em parceria com a Universidade Fernando Pessoa e a Fundación Comarcal de Santiago. Para Arlindo de Magalhães, a dimensão simbólico-religiosa dos Caminhos de Santiago está a desaparecer, porque, na sua opinião, há outras vertentes que se estão a impor. Ou seja, hoje o caminho é percorrido por muitas razões, que vão desde o esoterismo até ao aproveitamento turístico, e quase já não há peregrinos religiosos. Na sua intervenção, o professor considerou que o Caminho de Santiago, de origem pagã de peregrinação e cristianizado a partir da Idade Média é «uma experiência radical religiosa », considerando, já no período do debate, que «ele hoje deve ser tudo o que foi no passado». «Só tenho medo que os interesses económicos matem as valências múltiplas do caminho », acrescentou. Em declarações ao Diário do Minho, Arlindo de Magalhães defendeu que no futuro é necessário travar uma luta pela verdade histórica e cultural do caminho. «É preciso, sobretudo, lutar pelo espírito do caminho, pelo valor simbólico do caminhar que não é unicamente exclusivo do cristianismo », disse. Neste painel, que decorreu da parte da manhã, participou também Brochado de Almeida, da Universidade do Porto, que traçou um quadro histórico dos Caminhos de Santiago. Segundo explicou, não é possível acreditar que havia apenas um caminho. O mais antigo, que terá sofrido várias mutações ao longo dos séculos, partia de Braga, pela sua centralidade, passava por Ponte de Lima, onde estava a única ponte, seguindo depois por Paredes de Coura e Valença. Este era o traçado mais fácil, mais directo e com mais apoios, realçou. O arqueólogo Sande Lemos, da Universidade do Minho, considerou, por sua vez, que os Caminhos de Santiago são «um regresso à paisagem». Na sua opinião, estes caminhos não são como as “auto-estradas” romanas. A variedade de trajectos, sustentou, são uma oportunidade para se desvendar o passado. «São a chave decisiva para descobrir o tempo que o território esconde», disse. O seminário “Traslatio – Herança do Caminho Português de Santiago”, que encerra hoje com uma visita aos quatro concelhos organizadores, é o culminar de um projecto financiado pelo Interreg III-A, existindo já uma segunda edição assegurada. No Traslatio II, que vai decorrer entre 2006 e 2007, com um orçamento de 1.535.000 Euros, vão ser efectuadas 23 intervenções de recuperação patrimonial, disse ao Diário do Minho Fernando Vicente Davila. Segundo o xerente da Fundación Comarcal de Santiago, no Caminho de Santiago português estas intervenções irão contemplar igrejas, adros e recuperação de áreas naturais. Serão também efectuadas uma curta- -metragem e uma exposição itinerante, e promovidos seminários para intercâmbios de ideias. Para culminar o Traslatio, que termina no final próximo mês de Junho, Fernando Davila realçou que foi fundamental a realização deste seminário, onde, para além das palestras que decorreram durante todo o dia, será feito hoje o lançamento, em Valença, da publicação “Guia para os Pequenos Caminhantes do Caminho Português” e a inauguração, em Ponte de Lima, de uma página na Internet.

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