Santa Sé apresentou o seu programa de iniciativas para assinalar o ano da astronomia, centrado na figura de Galilei Para assinalar o ano da astronomia, em 2009, começa hoje (26 de Maio) Congresso internacional sobre Galileu Galilei, que decorrerá em Florença de 26 a 30 de Maio
Numa nota oficial, a Santa Sé explica que este ano representa “uma importante ocasião de aprofundamento e diálogo”, pelo que diversos organismos da Cúria Romana irão promover “manifestações, iniciativas e projectos que têm como objecto a astronomia e a figura de Galileu”.
Segundo o comunicado, “os tempos estão maduros para uma nova consideração sobre a figura de Galileu e todo o seu caso”, lembrando que já o Concílio Vaticano II tinha feito referência ao mesmo, defendendo a “legítima autonomia da ciência”, e que João Paulo II instituiu em 1981 uma Comissão para reexaminar a fundo o “Caso Galileu”, que veio a reconhecer “os erros do juízes”.
“A Igreja vive este ano com a consciência de que já cumpriu, a este respeito, um longo caminho de reflexão”, assegura a Santa Sé, que fala “num clima mais sereno”.
“Podemos olhar finalmente para a figura de Galileu e reconhecer o crente que tentou, no contexto do seu tempo, conciliar os resultados das suas investigações científicas com os conteúdos da fé cristã. Por isso, Galileu merece todo o nosso apreço e gratidão”, pode ler-se.
Neste momento decorre um projecto de redacção integral das cartas do processo de Galileu, a cargo do Arquivo Secreto do Vaticano, que deverá estar concluído antes do final deste ano. O arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, disse por diversas vezes nos últimos meses que o processo da Inquisição contra Galileu foi concluído efectivamente com uma sentença de condenação, que nunca foi assinada pelo Papa e sobre a qual houve um grave desacordo entre os Cardeais.
No 400.º aniversário das primeiras descobertas astronómicas, a Santa Sé lembra que “Galileu foi o primeiro homem que apontou um telescópio para o céu, experimentando uma sensação nova de maravilhamento”.
“A Igreja deseja, por isso, honrar a figura de Galileu, genial inovador e filho da Igreja”, assinala a nota oficial.
O documento afirma que “existe um estreito vínculo entre a contemplação do céu estrelado e a religião”, dado que “em quase todas as culturas e civilizações, a observação do céu está impregnada de um sentido profundamente religioso”.
“Também a Bíblia conserva traços dessa sabedoria antiga, que sublinha a força criadora de Deus, desde as primeiras páginas do Génesis à adoração dos Magos, passando pela aventura pessoal de Abraão, que via nas estrelas do céu o penhor seguro da promessa divina”, acrescenta.
Nesta ocasião foram ainda recordados vários Papas que se dedicaram à astronomia, como Silvestre II – que a introduziu no curriculum eclesiástico -, Gregório XIII (a quem devemos o nosso calendário) e São Pio X, que sabia construir relógios solares.
O Pe. José Gabriel Funes, director do observatório astronómico do Vaticano, disse aos jornalistas presentes na sala de imprensa da Santa Sé que “todos nascemos astrónomos” e que a celebração do ano da astronomia pode “ajudar os cidadãos do mundo a redescobrir o seu lugar no Universo”.