A Igreja Matriz de Ponte de Lima foi ontem, dia 12, pelas 21,30 horas, espaço de eleição para a audição do recital de órgão que a organização Opera Faber, na pessoa da sua responsável, senhora Carole Ludlow, entendeu por bem integrar no Festival de Ópera e Música Clássica que está a decorrer entre 7 e 21 do corrente mês de Julho, na secular vila de Ponte de Lima. A Igreja encheu-se para saborear os sons do bicentenário órgão, construído em 1790 pelas mãos do organeiro Joaquim António Peres Fontanes (o construtor de três dos seis órgãos da Basílica de Mafra) e restaurado há perto de 17 anos pelas mãos experientes do Mestre organeiro António Simões, que já conta no seu palmarés com 4 órgãos novos e mais de uma centena restaurados. Trata-se de um órgão de armário, um dos últimos exemplares da organaria portuguesa histórica, com teclado partido, 11 meios-registos, um registo inteiro de cheios e e um pisante de cheios que permite alargar variadas combinações tímbricas. O organista foi Rui Vilão, um jovem nascido em Coimbra em 1976 e aí formado musicalmente em piano e órgão pelo Conservatório de Música de Coimbra e pela frequência de classes de mestres de renome. Rui Vilão é organista na paróquia de S. José, em Coimbra, e colabora na Escola Diocesana de Música Sacra de Coimbra na docência da classe de Piano e órgão. Tem colaborado a solo ou como pianista/organista acompanhante em inúmeros concertos, integrando, além disso, a “Capela Gregoriana Psalterium” de que é fundador. Paralelamente, Rui Vilão desempenha funções de Assistente no Departamento de Física da Universidade de Coimbra, onde concluiu, há menos de um mês, sob a orientação do Doutor João Campos Gil e do Doutor Ayres de Campos, o seu Doutoramento em Física Experimental. Este recital foi possível graças à mediação do Doutor Ayres de Campos que serviu de interlocutor entre o organista Rui Vilão e o Prior da Vila de Ponte de Lima, Padre Dr. José Gomes de Sousa, cuja diligência no sentido de se fazerem respeitar as linhas orientadoras da Conferência Episcopal, no que toca aos concertos de música sacra em locais de culto, resultou na autorização concedida pelo Bispo da Diocese, D. José Augusto Pedreira. Foram assim conseguidos objectivos como os de fazer ouvir órgãos históricos restaurados, revitalizando-os, e estimular o interesse e o contacto com a preciosidade de espaços arquitectónicos, como é o caso da Igreja Matriz de Ponte de Lima. O programa da noite fundamentou-se no diálogo entre duas linhas musicais distintas: a da música ibérica para órgão e a da música barroca para tecla. Nessa linha, foram escutadas obras como Canción para la corneta com el eco, Anonym (séc. XVII), Voluntary, Op. 5, nº 1, de John Stanley (séc. XVIII), obras de António Carreira (séc. XVI), Carlos Seixas (séc. XVIII) e J. S. Bach, Pedro de Araújo e Pablo Bruna (séc. XVII). Rui Vilão foi fortemente ovacionado pelo grande número de pessoas participantes no recital, tendo o organista brindado a assistência, no final, com uma peça de Haydn. (João Maria Carvalho)