Bento XVI não deverá voltar a abordar a questão das relações entre cristãos e muçulmanos até amanhã, na visita a Santa Sofia, mas as suas primeiras intervenções confirmaram a nova linha de diálogo e de exigência da Santa Sé em relação ao mundo islâmico. A repetida exigência de liberdade religiosa entra dentro da necessidade de “reciprocidade”, atitude fundamental que os líderes católicos esperam por parte dos dirigentes muçulmanos. De facto, em muitos países de maioria muçulmana as minorias cristãs não podem viver de acordo com a sua fé. As palavras de respeito e os apelos a uma aliança de civilizações precisam de gestos concretos. Ontem, perante o corpo diplomático acreditado na Turquia, o Papa defendeu que num país democrático há que garantir “ a liberdade efectiva para todos os crentes e permitir-lhes que organizem livremente toda a vida da sua própria comunidade religiosa”. “A liberdade religiosa é uma expressão fundamental da liberdade humana”, assinalou, pelo que “a presença activa das religiões na sociedade é um facto de progresso e de enriquecimento para todos”. Os cristãos na Turquia são hoje uma minoria que representa cerca de 0,6% da população total, maioritariamente muçulmana sunita. O respeito pela liberdade religiosa na Turquia é uma das questões pendentes para a entrada do país na União Europeia e a visita papal acontece pouco tempo depois da UE ter publicado um relatório criticando novamente a Turquia pela falta de progressos nesta matéria. A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, especializada nas questões da liberdade religiosa no mundo, lembra que ainda este mês o Presidente Ahmet Sezer aprovou a nova “Lei das Fundações”, que prevê a devolução das propriedades confiscadas pelo Estado às fundações das comunidades religiosas, mas não permite ainda que possam gerir os seus estabelecimentos de ensino religioso, como seminários.