Receitas dos santuários devem ter função social

Pastoral dos lugares sagrados em debate no encontro dos Secretariados Diocesanos das Migrações

A preocupação com os mais pobres deve ser uma das prioridades dos santuários, especialmente no “acolhimento, misericórdia e eucaristia, mas também em gestos solidários de partilha”.

A ideia foi lançada esta Quarta-feira pelo presidente do Conselho Permanente da Associação Santuários de Portugal, Pe. Sezinando Alberto, durante o encontro dos Secretariados Diocesanos das Migrações, que decorre em Ferragudo, diocese do Algarve.

O reitor do Santuário de Cristo Rei, em Almada, defende que uma percentagem dos fundos daqueles lugares santos deviam ser destinados à “função social”, posição apoiada pelo secretário da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana, Fr. Francisco Sales.

“Os santuários, se não tiveram uma atenção aos mais pobres e mais frágeis, se não tiverem atenção à misericórdia de Deus, podem fazer muitas coisas dignas da evangelização mas ficam coxos”, afirmou o religioso franciscano, que sugeriu a entrega do “dinheiro das promessas” às instituições de apoio sócio-caritativo.

Poder de atracção

“Apesar do aumento da secularização, o interesse pelas peregrinações aos santuários não diminuiu – pelo contrário”, salientou o Pe. Sezinando Alberto.

No entender do sacerdote, estes espaços devem aproveitar as motivações que atraem os peregrinos, ainda que não sejam religiosas, criando ocasiões para manifestar o “transcendente”.

Uma das oportunidades para a evangelização consiste na realização de actividades culturais, “procurando chegar àqueles que se interrogam sobre a fé”, para a partir daí promover o encontro com Deus”.

A prioridade dos reitores dos santuários deveria ser “a formação dos seus colaboradores”, realçou o responsável, que chamou a atenção para o cuidado a dedicar à vertente “estética”.

O Pe. Sezinando Alberto salientou a importância de manter os espaços “asseados, ordenados e com sinalética” adequada, além de se prestar atenção ao vestuário, ao trato no acolhimento, ao cuidado na apresentação e à harmonia das cores e das formas: “Quem chega gosta do melhor, do mais fino e do delicado”, afirmou.

Espaços de conversão

Depois de sublinhar que o “santuário deve ser visto como lugar de memória da acção de Deus na história”, que “actualiza permanentemente o seu amor”, o sacerdote assinalou que aqueles espaços “são uma escola de oração” chamada a “incutir no peregrino o espírito de contemplação e de paz”.

“A visita a um santuário é normalmente uma ocasião propícia para os peregrinos se aproximarem do sacramento da Penitência”, pelo que os responsáveis dos lugares sagrados “devem ter cuidado com a escolha dos confessores”, a quem “nenhum pecado deve escandalizar”.

O reitor do santuário de Cristo Rei lembrou que “muitas pessoas não se sabem confessar”, começando a contacto com o padre por uma conversa: “Não se deve abafar este diálogo”, advertiu.

O convite ao sacramento também denominado da Reconciliação pode ser reforçado com a elaboração de desdobráveis que, além de “apelativos e esclarecedores”, devem evitar o afastamento dos peregrinos.

Na conferência intitulada “A Pastoral dos Santuários”, o Pe. Sezinando Alberto recomendou a aquisição de livros litúrgicos e a criação de folhetos e livrinhos em língua estrangeira para as celebrações, “que devem ser exemplares, não tanto na quantidade mas na qualidade, de modo que o fiel, ao regressar a casa, se sinta confortado e edificado”.

Estimando em mais de 70 o número de santuários existentes em Portugal, o Pe. Sezinando Alberto defendeu que aqueles lugares não se apresentam como “concorrentes” das paróquias, havendo espaço na Igreja para a convivência entre ambos, desde que cada um seja fiel aos objectivos e atribuições específicas.

O encontro dos Secretariados Diocesanos das Migrações decorre até 8 de Julho, sendo dedicado ao tema “Turismo: oportunidades de evangelização”.

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