Plano de emergência prevê que a instituição católica colabore na recolha, triagem e armazenamento de roupa e alimentos
O realojamento das pessoas que perderam as suas casas e haveres no temporal do último Sábado é a principal prioridade da Cáritas do Funchal. Nos próximos dias serão equipadas 11 habitações.
O presidente da instituição, José Manuel Barbeito, considera que a permanência dos desalojados em centros de acolhimento “não se pode prolongar”, dado que esses grupos “precisam de uma grande equipa de apoio e de uma logística muito pesada”.
Por outro lado “começam a gerar-se dificuldades de todo o género, nomeadamente ao nível da disciplina e do controlo de problemas emocionais e psicológicos”, referiu aquele responsável à Agência ECCLESIA.
Actualmente haverá mais de 300 pessoas em pontos de alojamento localizados no Regimento de Guarnição n.º 3, Casas de Saúde de São João de Deus e Câmara Pestana – pertencentes aos ramos masculino e feminino da Ordem Hospitaleira – e Pousada de Juventude, entre outras entidades.
A fase seguinte consistirá no realojamento das vítimas que estão em habitações de familiares. Algumas dessas situações também são prioritárias porque há lares que acolheram, de um momento para o outro, 20 a 30 pessoas.
A operação de realojamento determinou a abertura de um armazém destinado à recolha de equipamento para as habitações. A Cáritas do Funchal está a pedir às empresas que ofereçam uma parcela desse recheio, seguindo o exemplo de uma unidade hoteleira. O mobiliário que não for doado será adquirido com os fundos obtidos através das campanhas de solidariedade.
A ocupação das casas dependerá igualmente da resolução de dificuldades logísticas. “Não se colocam esquentadores de uma hora para outra”, exemplificou José Manuel Barbeito.
Nem todos os casos requerem a transferência das vítimas para novas habitações, dado que muitas casas resistiram à força das águas. Mas todos os desalojados precisam de equipamento novo nas suas residências. Neste sentido, os donativos em dinheiro serão “essencialmente aplicados no realojamento das pessoas que estão nos centros de acolhimento”, assinalou o responsável.
O dirigente chamou a atenção para o facto de haver vários desalojados, especialmente nas zonas mais distantes do Funchal, que “não sinalizaram oficialmente a sua situação” à Segurança Social da Madeira. Este procedimento é fundamental para que esses casos sejam apoiados, advertiu o dirigente.
Envolvimento desde o primeiro dia
Os projectos de realojamento constituem uma parte da acção que a Cáritas do Funchal tem realizado desde as cheias. Estima-se que a instituição esteja a apoiar mais de 400 pessoas.
O plano de emergência estabelecido com a Secretaria dos Assuntos Sociais da Madeira prevê que a instituição de apoio social da Igreja Católica colabore na recolha, triagem e armazenamento de roupa e alimentos. “Dentro do possível asseguramos também a distribuição desses bens, coordenando as diversas entidades com quem trabalhamos em parceria”, referiu José Manuel Barbeito.
“Em termos de alimentos vamos ter de fazer uma reavaliação à medida que avançamos no terreno, especialmente no que diz respeito às necessidades na Ribeira Brava e em pontos mais isolados, para que os bens comecem a chegar da melhor forma a essas populações”, referiu o presidente da Cáritas diocesana.
Os mantimentos que se puderam recuperar no supermercado Pingo Doce situado no Centro Comercial Dolce Vita e no supermercado Esperança, localizado na zona velha do Funchal, estão a ser encaminhados para o Mercado Abastecedor.
Entretanto esgotou-se a capacidade de armazenamento de alimentos e vestuário. “Já fiz um apelo para que as pessoas parem de dar roupa”, lembrou José Manuel Barbeito.
Além de garantir pão, roupa e habitação, a Cáritas procura confortar aqueles que perderam o mais importante. “Há situações muito duras, como a de uma família em que faleceram sete pessoas e só uma sobreviveu”.
O número de mortos provocado pelas enxurradas tem sido motivo de “especulação”, afirmou José Manuel Barbeito. “Há muito boato a correr. É preciso ser prudente na reacção a certas afirmações que vão sendo feitas”, acrescentou.
O dirigente alertou ainda para a existência de e-mails com pedidos de donativos e indicações de contas bancárias que, ao contrário do que querem fazer crer, não se destinam às vítimas do temporal. “Temos de ter muito cuidado”, assinalou.
Solidariedade supera expectativas
A resposta da Cáritas do Funchal à situação na Madeira tem contado com uma significativa mobilização popular. “Terão passado até agora pelos pontos principais da Cáritas cerca de 400 a 500 voluntários”, assinalou José Manuel Barbeito. “Estes números – precisou – não incluem as pessoas que habitualmente dão do seu tempo à instituição”.
Por outro lado tem-se registado “uma grande colaboração, em termos de logística, com várias instituições”.
As cerca de 100 pessoas que diariamente se oferecem para trabalhar são suficientes? “Nem sim nem não. À medida que os serviços e as empresas forem reabrindo, vamos começar a perder o fulgor dos voluntários, pelo que vamos ser prudentes nessa questão. De repente poderão surgir novas necessidades, o que é normal”, indicou o responsável.
O movimento de ajuda às vítimas “supera as expectativas”, disse José Manuel Barbeito. “Vejo com muito carinho as mensagens de solidariedade de Portugal e do estrangeiro, as ofertas de voluntariado e a entrega de donativos”. “Houve uma onda enorme de solidariedade. Vê-se claramente que as pessoas têm uma grande amizade pela Madeira”, acrescentou.
“Das coisas que mais me comoveram foi ver na televisão uma pessoa a dizer ‘agora vamos fazer turismo para a Madeira porque ela precisa do nosso dinheiro das férias, a fim de poder recuperar’. Esta é uma mensagem importantíssima”, sublinhou.
“Gostaria de deixar uma mensagem de gratidão a todos os portugueses que mostraram a sua generosidade”, disse José Manuel Barbeito, que destacou o apoio manifestado pelo presidente da Cáritas Portuguesa e pelos responsáveis das delegações diocesanas.
“Estamos todos unidos, estamos todos a rezar, especialmente por aqueles que desapareceram e pelas famílias que sofrem a perda dos seus parentes.” E rematou: “Temos de ter muita esperança, como dizia o nosso bispo. Temos de ter muita fé para enfrentar esta situação e acreditar que o futuro será com certeza risonho.”