Santuários e festas religiosas são referências para os emigrantes que voltam ao seu país, durante as férias
Todos os anos, milhares de emigrantes regressam a Portugal, com o intuito de assistirem às festas religiosas, nos seus lugares de origem. Movidos pelo desejo de retornar às origens, a religião desempenha um papel determinante na busca daquelas pessoas por uma identidade nacional, que ficou para trás.
Esta é uma realidade muito presente no Arquipélago dos Açores, como foi constatado pela ECCLESIA. Com comunidades de emigrantes espalhadas, sobretudo, pelo continente americano, todos os anos milhares de pessoas regressam às ilhas, com o intuito de assistirem às festas religiosas que se multiplicam por aquela região.
D. António Sousa Braga, Bispo da Diocese de Angra e Ilhas dos Açores, explica este retorno anual às raízes com uma forma de “celebrar um sentido de pertença”. Os emigrantes açorianos estão distribuídos por países como Estados Unidos, Canadá e Brasil, nações de elevado pluralismo cultural, social e religioso, e muitas vezes “sentem necessidade de reafirmar a sua identidade “.
“A maneira que têm para o fazer”, acrescenta o bispo, “é através da expressão religiosa, porque nas ilhas, a grande expressão de vida comunitária é feita através da religião”.
D. António Braga é natural dos Açores, da Ilha de Santa Maria, e é como filho daquela terra que vê “com emoção” a influência que as diversas celebrações religiosas têm na vida dos emigrantes.
“Através das festas, eles sentem que não estão sozinhos. Estão numa caminhada difícil, mas sabem que Jesus está com eles, e poder ver isso na cara das pessoas emociona bastante” refere aquele responsável. “É como que uma pregação que o povo faz para os pastores, algo que nós não conseguimos expressar por palavras, só vendo”, acrescenta ainda.
As Festa do Santo Cristo dos Milagres e do Bom Jesus são exemplos de celebrações que deixaram marcas na vida das pessoas. Marcas tão grandiosas que, uma vez no seu país de emigração, as pessoas continuam a vivê-las.
O Bispo de Angra e das Ilhas dos Açores realça que “já testemunhou várias vezes o fervor religioso dos emigrantes açorianos, lá fora”, apontando como exemplos “as festas do Divino Espírito Santo, celebradas com devoção no Brasil, Estados Unidos e Canadá”.
“Em cada canto, o seu Espírito Santo”, brinca o bispo, exemplificando a devoção que os açorianos têm pelo Espírito Santo.
D. António Braga saiu cedo dos Açores, com 13 anos, para ir estudar para a Madeira e mais tarde para Coimbra, no Continente. Recorda, no entanto, a influência que as festas religiosas tiveram na sua vida, “pelo convívio, pela partilha e entreajuda, onde todos se sentavam à mesma mesa, sem distinções”.
No entender do bispo, esta devoção dos açorianos ao culto de Cristo, de Nossa Senhora e do Espírito Santo tem muito a ver com o trabalho realizado pela Ordem dos Franciscanos, no tempo da povoação do arquipélago.
“São cultos que nos colocam no cerne do mistério cristão, já que acreditamos num Deus de amor, que se fez homem e que é solidário com a pessoa humana” reforça aquele responsável.
Fátima serve também, todos os anos, de Santuário para milhares de portugueses vindos de todo o mundo. Os dias 12 e 13 de Agosto são dias especiais nas agendas dos emigrantes, com a realização anual da Peregrinação Internacional a Fátima.
Para o antigo reitor do Santuário, Mons. Luciano Gomes Guerra, a vinda de todas estas pessoas a Fátima significa que têm “saudades de um lugar de experiência de Deus, onde se pode saborear a comunhão e a fraternidade entre todos os povos”.
“Conheci alguns emigrantes que, quando regressavam a Portugal, a primeira coisa que faziam era ir a Fátima”, recorda o actual reitor emérito, que durante 35 anos teve como missão zelar pelo Santuário e pelos seus fiéis.
Na origem desta “saudade e do desejo de repetir”, Mons. Luciano Guerra considera que “é muito importante o culto aos beatos Francisco e Jacinta”, porque as pessoas querem renovar todas as boas experiências que a vida e exemplo daquelas figuras lhes transmitem.
De acordo com o mesmo responsável, Fátima é um lugar que liga todas as pessoas, através da fé. “E é aí que muitas pessoas, que chegam cá com o coração frio, acabam por sentir um estremeção, porque percebem que são iguais aos outros, todos são unidos por este desejo do infinito, de Deus”, acrescenta ainda.
Apesar de considerar “normal” que Fátima não reúna todos os consensos, porque “até Jesus teve os seus adversários”, Mons. Luciano Guerra alegra-se por continuarem a existir “aqueles que se abrem ao transcendente e a Deus” e continuam, ano após ano, a visitar o Santuário. O reitor emérito de Fátima definiu aquela realidade como uma certa “fome de Deus”, que as pessoas hoje em dia vão revelando.
É neste patamar que encontramos também os milhares de emigrantes que regressam a Portugal, todos os anos, para participarem nas diversas festas religiosas. Uns regressam mais pelo culto a Deus, outros pela partilha e comunhão com as pessoas, outros ainda pela saudade de recordar sentimentos e lugares perdidos no tempo. Mas é esta “fome de Deus”, sentida e expressada de maneiras diferentes, em lugares diferentes, que mantém vivo o desejo de regressar a casa.