Padre Marcelo Oliveira denuncia «caos» provocado pelos conflitos junto à fronteira com o Ruanda
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Lisboa, 15 fev 2025 (Ecclesia) – O padre Marcelo Oliveira, missionário comboniano a viver na República Democrática do Congo (RDC) denunciou o “grande silêncio” da comunidade internacional perante o “caos” que se vive no país africano
“A Igreja consegue manter-se presente, a comunidade internacional fica na passividade”, refere o religioso português, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia e Renascença.
O sacerdote mostra-se impressionado com a “a passividade da comunidade internacional face a uma crise humanitária com o tamanho desta”, na RDC.
Semanas depois do grupo armado M23 ter avançado para a cidade de Goma, continuam a registrar-se confrontos na capital da província de Kivu Norte, no leste da República Democrática do Congo, junto à fonteira com o Ruanda.
Falando numa situação “dramática”, o padre Marcelo Oliveira diz que a população é a grande vítima dos confrontos entre “o exército congolês e grupos armados, que procuram tomar posse [do território] para poder continuar depois com o saque de tudo o que são as riquezas”.
O religioso define como “um caos” a situação que se vive, explicando que estes grupos armados “não somente atacam a cidade em si, mas atacam os hospitais, mesmo até os campos de refugiados”.
Para o religioso, o foco dos combates está em “pilhar as riquezas naturais”, em particular ouro, cobalto ou diamantes.
“Todas estas riquezas que saem do Congo, pela porta do cavalo, são vendidas pelo Ruanda, que depois se aproveita”, denuncia.
Enquanto houver confusão, enquanto houver guerra, é fácil fazer desaparecer as riquezas”.
O missionário português sublinha que a ajuda apenas pode chegar a Goma por via aérea, deixando as populações entregues a si mesmas.
“A Igreja continua presente ao lado do povo. A ONU continua a fazer o seu trabalho através do Alto Comissariado para os Refugiados”, acrescenta.
Segundo o religioso, a Igreja tem sido a “voz” do povo que sofre, nas cidades ou vilas fronteiriças, que permitem facilmente a saída das riquezas, seja pelo Uganda, seja pelo Ruanda e mesmo pela Tanzânia.
O entrevistado descarta a possibilidade de “uma guerra generalizada em todo o país”, precisando que “o foco é a tomada de posse pelas forças estrangeiras das zonas altamente ricas”.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)
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