RDCongo: Fundação pontifícia alerta para corpos «amarrados e decapitados», numa aldeia do Kivu Norte

«Massacre»  de mulheres, crianças e idosos aconteceu numa igreja cristã protestante

Lisboa, 28 fev 2025 (Ecclesia) – A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) alertou hoje para o “massacre” de “pelo menos 70 pessoas”, numa aldeia em Lubero, na província do Kivu Norte, na República Democrática do Congo, “os corpos foram encontrados numa igreja protestante”.

“No dia 15 de fevereiro, foram encontrados 70 corpos no interior de uma igreja protestante. Muitos estavam amarrados e alguns decapitados. Entre as vítimas encontravam-se mulheres, crianças e idosos”, descreveu à AIS uma fonte local, informou hoje o secretariado português da fundação pontifícia.

O “massacre destas “70 pessoas”, segundo a nota enviada à Agência ECCLESIA pela AIS esta sexta-feira, dia 28 de fevereiro, “terá sido da responsabilidade” de militantes do grupo armado islâmico ‘Forças Democráticas Aliadas’ (ADF).

Os crimes na aldeia de Maiba, perto de Lubero, na província do Kivu do Norte, aconteceram entre os dias 12 e 15 de fevereiro, quando os rebeldes de um grupo terrorista islâmico, originário do Uganda, entraram na aldeia e fizeram “cerca de 100 pessoas reféns”.

“Quando estes grupos fazem reféns, obrigam-nos a caminhar longas distâncias, quer como reforços para o grupo armado, quer como mão-de-obra forçada para o esforço de guerra. Quando há saques, precisam de pessoas para transportar os itens roubados, mas se alguém se cansa pelo caminho, os rebeldes matam essa pessoa. Penso que foi isso que aconteceu com estas 70 pessoas”, explica a fonte contactada pela Ajuda à Igreja que Sofre.

De acordo com dados recentes da ONU, cerca de 3000 pessoas morreram e mais de um milhão foram deslocadas nas últimas semanas, com milhares de pessoas a refugiarem-se em igrejas, escolas e campos improvisados, devido à escassez de alimentos, água e medicamentos.

Foto: Lusa/EPA

A fundação pontifícia explica que, nos últimos meses, extremistas islâmicos intensificaram os “ataques a aldeias remotas”, o massacre de Maiba “terá sido perpetrado pelo grupo islâmico Forças Democráticas Aliadas (ADF)”, que opera no Uganda e na República Democrática do Congo, e “aterroriza a população local há mais de uma década”.

Por usa vez, o padre Marcelo Oliveira, missionário português que vive há vários anos no país, esta é “uma situação preocupante” à qual, como cristãos, “não podem ficar indiferentes”, “os militares continuam também a morrer, mas a grande parte sofredora são os populares”.

“Forças rebeldes, com grande assistência do exército do Ruanda, continuam a atacar cidades, aldeias, e a massacrar por onde passam, criando terror, pavor, fazendo que todas estas populações possam fugir.  Uma grande quantidade de pessoas começa a refugiar-se no país vizinho, no Burundi, e fala-se de 100 mil pessoas que teriam já atravessado a fronteira”, esclarece o sacerdote do instituto comboniano, citado pelo secretariado português da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre.

A Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE) alertou para a crise humana e de segurança na RDC, apelando à intervenção da comunidade internacional; o Papa Francisco tem manifestado também a sua preocupação com o “agravamento da situação de segurança” neste país de África.

Parlamento Europeu aprovou uma Resolução Comum não legislativa sobre a escalada de violência na parte oriental da República Democrática do Congo, e exige que o Ruanda e todos os outros potenciais intervenientes estatais na região deixem de apoiar o grupo rebelde M23.

CB/OC

 

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