No primeiro Natal como Bispo do Funchal, D. António Carrilho valoriza as tradições do Natal Madeirense HOMILIA DA MISSA DA NOITE DE NATAL 2007 MENSAGEM DO BISPO DO FUNCHAL À DIOCESE 1. “Anuncio-vos uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de David, um salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,10-11). Foi esta a mensagem dos anjos para os pastores que guardavam os rebanhos nos campos de Belém, na noite do nascimento de Jesus; é esta a mensagem que vos quero deixar, caros diocesanos, nesta noite de Natal, como eco daquele anúncio jubiloso de há 2000 mil anos, prolongado no tempo como se se tratasse de um só dia: “Hoje” nasceu o nosso Salvador! O facto histórico do nascimento de Jesus Naquela noite foi o acontecimento, o facto histórico do nascimento de Jesus na gruta de Belém, onde José e Maria foram recensear-se, dando cumprimento ao decreto de César Augusto, quando Quirino era governador da Síria. Maria estava para ser mãe e, como escreve S. Lucas, “enquanto ali se encontravam, chegou o dia de ela dar à luz e teve o seu Filho primogénito” (Lc 2, 6-7). Era o facto histórico, não uma lenda ou fantasia da imaginação; era um acontecimento bem situado no tempo e no lugar, bem caracterizado na história dos homens. Nascido como todas as crianças, era diferente aquele Menino! Um povo de crentes, alimentado pelas palavras dos profetas na esperança do Messias e vivendo na expectativa da Sua vinda, acolheu, com alegria, o anúncio do Mensageiro de Deus. Cumpria-se, ali, a profecia de Isaías: “a Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado Emanuel, que quer dizer ´Deus-connosco`” (Mt 1,23; cf. Is 7,14). Era, segundo as palavras da anunciação, o Filho do Altíssimo, Jesus-Salvador, gerado no seio de Maria com o “Sim” da sua disponibilidade: “Eis aqui a Serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). Como também profetizara Isaías, “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar” (Is 9,1), “ porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado” (Is 9,4) e “será chamado Conselheiro Admirável, Deus forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9,5). A perspectiva da fé O facto histórico do nascimento do Messias-Jesus tem, assim, na perspectiva da fé, um sentido de permanente actualidade e, por isso, podemos continuar a dizer, com a liturgia da Igreja “Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor” (refrão do Salmo Responsorial). Como escreve S. Paulo, “quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu filho, nascido de uma mulher, (…) para nos tornar seus filhos adoptivos” (Gal 4,5); e assim “se manifestou a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens” (Tit 2, 11). Primeiro Natal como Bispo do Funchal 2. É este o meu primeiro Natal como Bispo do Funchal. Estou convosco há sete meses, apenas, e posso dizer-vos que me sinto parte desta grande família diocesana, que para além da Madeira e Porto Santo me transporta, em comunhão de fé e solidariedade, até onde se encontram os nossos emigrantes. Já visitei muitas paróquias, participando nalgumas festas mais significativas, celebrando o Crisma de muitos jovens e adultos, contactando com muita gente. Tenho procurado cumprir os meus objectivos de conhecer as realidades, pensar na melhor forma de responder às necessidades espirituais desta parcela do Povo de Deus e agir em consequência. Conforme tive oportunidade de dizer em duas Mensagens Pastorais já publicadas, a auscultação feita em diversas instâncias diocesanas e no diálogo informal com sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos da Diocese aponta para se tomarem como prioridades a catequese dos mais novos e a formação cristã básica dos adultos, o apoio à juventude e à família, a proposta de ideais e projectos de vida em ordem à descoberta da vocação pessoal dos jovens e ao acompanhamento das vocações de especial consagração ao serviço da Igreja e da Sociedade. Foi neste sentido que já se deram alguns passos inovadores, remodelando o quadro das estruturas de apoio pastoral à Diocese e envolvendo nele uma significativa participação dos leigos, juntamente com os sacerdotes e religiosos. Não se esqueceram, no entanto, os outros campos da acção pastoral, nomeadamente as áreas da Pastoral Social, da Saúde e das Migrações e Turismo. Um Natal cheio de tradições Conheço muitas das vossas tradições religiosas e sociais, manifestadas especialmente nas festas e costumes; nesta quadra estou a conhecer, também, as belas tradições ligadas à grande Festa do Natal. Vivemos, nesta Diocese, um Natal cheio de tradições de fé, de alegria e comunicação entre as pessoas. Sentimo-nos mais próximos uns dos outros, solidários e amigos, fomentando o encontro das famílias e a partilha fraterna. O Menino Jesus no seu trono ou deitado nas palhinhas do presépio, com as “searinhas” e outros elementos alusivos; os cumprimentos e lembranças que se trocam; os sabores próprios desta quadra; as músicas e as iluminações, que envolvem a Ilha – tudo aponta no sentido da festa! Especial referência merecem as tradicionais “Missas do Parto”. Presidi a oito dessas Missas em paróquias diferentes e sempre com as igrejas repletas de fiéis. Fiquei contente por ver tantas pessoas, de madrugada, sacrificando parte do seu descanso e, por vezes, em condições atmosféricas desfavoráveis, cantando e rezando com alegria e convivendo umas com as outras após as celebrações. É, sem dúvida, uma tradição de fé que não pode perder-se e não pode perder o seu sentido genuíno: o Povo de Deus acompanha, deste modo, a Virgem Maria, com especial carinho e devoção, e recorre ao seu auxílio, à medida que se aproxima o momento de ela dar à luz o Messias, Filho de Deus. Dentro do mesmo espírito se deverão conservar as orações e os cânticos tão característicos desta novena. No contexto em que se celebram, as Missas do Parto preparam a “Festa”, mas já fazem parte da “Festa”, como que antecipando a alegria do Natal para os nove dias que o antecedem. E, deste modo, dão-nos o fundamento e a razão de ser da festa: o nascimento de Jesus e a Sua mensagem de fraternidade, de amor e de paz. Será o amanhecer, a aurora de um mundo novo, da civilização do amor! Jesus Cristo, fonte da alegria e da esperança 3. “Anuncio-vos uma grande alegria, que será para todo o povo: Hoje nasceu o nosso Salvador” (Lc 2, 10) – Esta é a mensagem do Natal de Jesus, que importa continuar a proclamar e a repetir. Todos nós precisamos desta boa-nova, perante as tristezas e os sofrimentos próprios e alheios, perante as situações de pobreza e exclusão social ainda existentes, perante a falta de sentido e de projecto de vida, que tantas vezes conduzem à droga, ao álcool, à violência e à marginalidade. Para os crentes, Jesus Cristo é a fonte da alegria, da esperança e da luz! É o Caminho, a Verdade e a Vida! É o Emanuel, Deus-connosco, que “revela ao Homem o próprio Homem”, como escreveu João Paulo II, na Encíclica Redentor do Homem (Redemptor Hominis). Jesus veio trazer a Sua paz e a Sua alegria, cujo segredo é o Amor-Caridade: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei” . E o Papa Bento XVI na sua mais recente Encíclica Salvos na Esperança (Spe Salvi), datada de 30 de Novembro último, escreve a propósito da esperança: “Precisamos de esperanças – menores ou maiores – que, dia após dia, nos mantêm a caminho. Mas, sem a grande esperança que deve superar tudo o resto, aquelas não bastam. Esta grande esperança só pode ser Deus, que abraça o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir. (…) Deus é o fundamento da esperança – não um deus qualquer, mas aquele Deus que possui um rosto humano e que nos amou até ao fim (…) O Seu reino está presente onde Ele é amado e onde o Seu amor nos alcança” (Salvos na Esperança, 31). Votos de Santo e Feliz Natal! Aqui vos deixo, caríssimos diocesanos, os meus votos de SANTO E FELIZ NATAL! Uma Natal de luz, de fé e alegria, de esperança, de amor e de paz para todos: – Que as crianças, adolescentes e jovens encontrem no amor de Cristo a luz e o sentido das suas vidas; – Que os pobres, os doentes e enfraquecidos pela idade contem sempre com a ajuda fraterna de alguém, que lhes torne presente o Amor de Deus que é Pai; – Que as famílias cristãs, animadas pelo Amor-Caridade, sejam felizes e se tornem verdadeira os sinais luminosos do amor de Deus no mundo; – Que os nossos emigrantes encontrem lá fora as melhores respostas para as suas aspirações e necessidades; – Que os imigrantes que vivem e trabalham na nossa Região, e os turistas que nos visitam, se sintam acolhidos, com amor solidário e fraterno; – Que o espírito de fraternidade desta quadra natalícia toque os corações e a todos comprometa num esforço quotidiano de caridade e justiça social. A nossa prece Olhando Jesus-Menino, erguido no seu trono ou deitado nas palhinhas do presépio, nós rezamos: Vós que viestes ao mundo na noite de Belém, ficai connosco! Vós sois Cristo, o Filho de Deus, luz para as nossas vidas! Vós sois a nossa esperança, só Vós tendes palavras de vida eterna! Vós que sois o Caminho, a Verdade e a Vida, guiai-nos! Catedral do Funchal, 25 de Dezembro de 2007 + António José Cavado Carrilho, Bispo do Funchal