Num «momento de angústia», D. Willy Ngumbi Ngengele pede que se garanta «a proteção da vida» e que não haja violência sexual
Lisboa, 28 jan 2025 (Ecclesia) – O bispo de Goma, capital da província de Kivu Norte, no leste da República Democrática do Congo, escreveu um apelo perante o agravamento da situação humanitária na região, pedindo “respeito absoluto pela vida” e o fim da “violência sexual”.
“Apelo a todas as partes envolvidas no atual conflito armado e à população para que demonstrem um respeito absoluto pela vida humana e pelas infraestruturas privadas e públicas, que devem ser respeitadas por todos em todas as circunstâncias, de acordo com a dignidade humana e o direito internacional”, pode ler-se no texto enviado à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) partilhado hoje.
Goma tem sido palco de combates, depois do anúncio da conquista da cidade grupos rebeldes apoiados pelo Ruanda, dá conta a FAIS, que acrescenta que as informações são escassas sobre a situação no terreno, mas há notícias de bombardeamentos e milhares de pessoas em fuga.
O bispo D. Willy Ngumbi Ngengele explica no comunicado que, movido por “uma solicitude pastoral”, segue de perto, “com consternação, a evolução da segurança na cidade de GOMA”.
“É com repugnância que tomo conhecimento dos atentados bombistas, entre outros, contra o serviço de neonatologia do Hôpital Général Charité maternelle, causando a morte de recém-nascidos, e do atentado contra a concessão da procuradoria diocesana, destruindo as janelas do novo edifício recentemente inaugurado”, expressou.
No comunicado, o bispo fala num “momento de angústia” e apela “a todos para que garantam a proteção da vida e o acesso a serviços básicos para todos” e que não haja “violência sexual”.
“Nesta hora grave, asseguro a toda a população de Goma a proximidade e a compaixão da Igreja Católica, sentindo-me particularmente próximo dos feridos e das famílias das vítimas”, afirmou, exortando clero e consagrados, bem como fiéis e pessoas de boa vontade a “a prestarem amavelmente a ajuda necessária a quem quer que seja que esteja em necessidade”.
Presente há vários anos na República Democrática do Congo, o padre Marcelo Oliveira explicou à FAIS que os “ataques são uma constante” na região leste do país, confirmando que se está a assistir a uma tentativa de conquista da capital da província do Kivu Norte.
“Os ataques aproximam-se de uma das maiores cidades do país, Goma. O objetivo é que as forças estrangeiras, nomeadamente o Ruanda, que continua a apoiar as forças do [grupo rebelde] M23, para que possam tomar posse da cidade de Goma”, descreve o comboniano.
O sacerdote dá conta que “a nível nacional, o exército foi enviado em massa para poder fazer a defesa da cidade, apoiado sobretudo por grupos de milícias civis, chamados Wazalendo, que significa ‘patriotas’”.
“São jovens que procuram defender e apoiar o exército nacional na defesa do território”, indicou.
O padre Marcelo Oliveira denuncia que o presidente da República Democrática do Congo recusa-se a negociar com o M23, porque ele é apoiado pelo Governo do Ruanda.
“O presidente atual do Ruanda não se interessa em poder parar com este conflito. A ONU teve reuniões de urgência para poder intervir, para poder defender. A comunidade internacional, sobretudo a União Europeia, também fizeram algumas coisas, mas a situação continua sendo a mesma”, lamenta.
“Esperemos – e essa é a nossa esperança cristã – de poder ver ações claras e concretas para que a paz possa reinar neste país tão atacado e tão massacrado”, deseja.
LJ/OC