Quinto Congresso Eucarístico Nacional

D. Antonino Dias, bispo de Portalegre-Castelo Branco

Fotos: Agência ECCLESIA

O quinto Congresso Eucarístico Nacional vem a caminho, de 31 de maio a 2 de junho faz-se acontecer, em Braga. O primeiro ocorreu há cem anos, em 1924. O segundo, cinquenta anos depois, em 1974. O terceiro, 25 anos depois deste, em 1999. Os três realizaram-se em Braga. Em 2016, porém, decorreu o quarto Congresso Eucarístico Nacional, em Fátima. Agora retornamos a Braga. Cada um destes Congressos teve o seu lema condutor. O deste ano terá como linha de força “Partilhar o pão, alimentar a esperança. Reconheceram-no ao partir do pão”. Desta Diocese de Portalegre-Castelo Branco já se inscreveram trinta e algumas pessoas. Vai ser bom. Pretende-se sublinhar a centralidade da Eucaristia e do Domingo. O Domingo é a Páscoa semanal que identifica a comunidade cristã, é o centro da sua vida e missão, é o dia dos dias, o primeiro dia da semana, o que de mais belo tem a Igreja no seu caminho através dos tempos.

Ao longo da História da Salvação, o povo escolhido, o povo eleito entre todos os povos para ter uma missão em favor de todos, foi provado e educado por Deus como um pai próximo que educa e apoia o seu filho com amor, chamando-o a atenção para os riscos que se podem correr quando se dormita na vida e se dá azo à indiferença ou quando há acomodações à situação de prosperidade e abundância, pois “nem só de pão vive o homem, mas de tudo o que sai da boca do Senhor” (Dt 8, 3).

Para que chegasse à terra prometida, Deus enviava, todos os dias, ao seu povo, o maná, o alimento que lhe renovava as forças físicas para não desfalecer. Muitos séculos depois, Jesus explica aos seus discípulos que esse maná tinha em vista a doação de um outro alimento de excelência sem igual: “Os vossos pais comeram o maná no deserto, mas morreram. Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu, se alguém comer deste pão viverá eternamente; e o pão que Eu hei de dar é a minha carne, pela vida do mundo” (cf. Jo 6,49-51). Mas logo surge o espanto e o burburinho condizente: “Como pode Ele dar-nos a sua carne a comer?”. Jesus, porém, não se assusta nem recua, não desiste, não adociça a linguagem nem suaviza o discurso, antes pelo contrário, volta a reafirmar-lhes: “Em verdade em verdade vos digo, se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu hei de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue uma verdadeira bebida. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele” (Jo 6, 56).

Alguns não tiveram mesmo paciência para ouvir mais, acharam insuportável tal conversa e desandaram mesmo, murmurando: “Quem pode entender isto?” Jesus, porém, ainda vai mais longe. Volta-se para os Doze e pergunta-lhes: “Também vós quereis ir embora?”. Como quem diz: se também achais insuportável o que vos digo e quereis ir embora, está na hora, não quero ninguém atrás de mim a pensar que me está a fazer um favor. Perante o repto, logo lhe responde Pedro com uma afirmação que ainda hoje a fazemos nossa: “A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68).

Tal como o povo foi peregrino em direção à terra prometida, também hoje nós somos peregrinos em direção à pátria definitiva, que, como está escrito, nem os olhos viram, nem os ouvidos escutaram, nem jamais o coração humano pressentiu o que Deus tem preparado para aqueles que o amam (cf. 1Cor 2,9). Outrora, nesta caminhada do seu povo, Deus fez-se próximo, manifestou-lhe o seu amor e cuidado, deu-lhe alimento e fortaleceu-o para que não desanimasse no meio das suas fragilidades e sofrimento da vida. Deus, porém, nunca esteve tão próximo do seu povo como está hoje entre nós. Ele mesmo fez-se pão, ‘o pão vivo descido do Céu’, o alimento do seu povo em direção à meta. É este alimento que, sacramentalmente, alimenta, cura e unifica:  “Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque todos participamos desse único pão” (1 Cor 10, 17). Cristo Eucaristia faz-nos sair de nós mesmos para fazer de todos nós uma só coisa com Ele, um só corpo, o Corpo Místico de Cristo, do qual fazem parte a Igreja triunfante (no Céu), a Igreja padecente (no Purgatório) e a Igreja militante (na terra). Na celebração eucarística, a Igreja renova continuamente a sua consciência de ser sinal e instrumento, não só da íntima união com Deus mas também da unidade de todo o género humano (cf. LG1). No entanto, a Eucaristia não é só expressão de comunhão na vida da Igreja, também é projeto de solidariedade em prol de toda a humanidade, fazendo nascer um compromisso na edificação de uma sociedade mais humana, equitativa e fraterna.

Bento XVI dizia que na celebração eucarística “encontramo-nos naquela ‘hora’ de Jesus da qual nos fala o Evangelho de São João, a hora do triunfo total sobre o pecado e a morte, a hora em que Deus vence porque Deus é amor. Esta ‘hora’ de Jesus torna-se a nossa hora, se nós, mediante a celebração da Eucaristia, nos deixarmos envolver por aquele processo de transformação que o Senhor tem por finalidade (cf. Bento XVI, Colónia, 21/8/2005).

São João Paulo II, afirmava que “cada esforço de santidade, cada iniciativa para realizar a missão da Igreja, cada aplicação dos planos pastorais deve extrair a força de que necessita do mistério eucarístico e orientar-se para ele como o seu ponto culminante. Na Eucaristia, temos Jesus, o seu sacrifício redentor, a sua ressurreição, temos o dom do Espírito Santo, temos a adoração, a obediência e o amor ao Pai. Se transcurássemos a Eucaristia, como poderíamos dar remédio à nossa indigência? (EdeE, 60).

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Agência ECCLESIA

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