José Luís Nunes Martins
Quero dar-te um abraço e demorar-me. Descansar nos braços de quem também quero que descanse nos meus. Com força, para que se sinta toda a vontade e os corações se possam reconhecer um ao outro e passem a bater ao mesmo tempo. E demorar, porque se um abraço tem um certo poder de cura, eu quero ficar assim até que tudo fique bem, ou pelo menos melhore.
Chega a acontecer que num abraço não se saiba quem está a curar quem!
Um abraço verdadeiro é uma entrega tão generosa que quase se sente o outro como uma mãe grávida sente o filho que traz dentro de si. Nada mais importa. Quem me dera conseguir dar abraços assim…
Quando nos abraçamos, há algo sagrado que envolve os que abrem os seus braços para se entregar e se acolher o outro. É uma espécie de encontro de almas, em que a presença do outro se sente ainda mais, quanto mais se aperta.
Quanta tristeza há naquele lugar e tempo em que eu desejo o abraço de alguém que não mo dá, que não o quer, porque não me quer.
E que alegria imensa há em abraçar alguém até ao ponto em que o abraço parece terminar — e o outro, em vez de nos largar, nos aperta ainda com mais força… naqueles seus braços onde parecemos encaixar na perfeição…
Como uma mãe que tem no colo a solução para todos os problemas do mundo, também eu queria poder fazer dos meus braços um refúgio seguro para quem precisa descansar de tanto lutar e sofrer…Um abraço pode ser o ponto em que uma tristeza ou uma dor profunda se aceitam e assim se pode, por fim, seguir adiante.
Abraça os que amas enquanto podes.
Quem sabe se não está para breve o dia em que já não poderás sentir os braços de quem te ama – nem sentir-te a ti mesmo nesse lugar que também é uma morada tua.