Isabel Vasco Costa, diocese de Leiria-Fátima
Foi esta a pergunta que Zenão fez à sua mulher enquanto preparava uma aula para os alunos da Universidade. Surpreendida, Camila respondeu-lhe:
– “Então, sou a tua mulher, a mãe dos teus filhos, portuguesa… e sou filha de Deus. Pronto!
“Sim”, pensou Zenão, “É isso mesmo. Somos relações. Relações de amor ou aversão, relações de vizinhança, de culturas, de profissão, de amizade, de tradições, de proteção… Sem relações não conseguimos sobreviver.
Alguém afirmou que, ao lado da Estátua da Liberdade, em Nova York, faltaria a Estátua da Responsabilidade. Faz sentido. O Homem não pode, não consegue viver só. Faz parte da sua natureza viver acompanhado, relacionado com outros. Logo no início, Adão sentiu a falta de uma companheira. A primeira forma de relação foi a familiar: uma companhia permanente, colaboradora, entre um homem e uma mulher, colaboração logo continuada entre pais e filhos. A subsistência, a proteção e a transmissão de conhecimentos legados aos filhos, são relações que têm subsistido em todas as épocas. A atenção e cuidados prestados aos pais, são relações de retribuição e gratidão.
“Quem és tu?” Zenão pensa agora que resposta seria a sua. Professor? Cozinheiro? Estudioso? Artista? Desportista? Colecionador de selos?… Sem dúvida que a profissão, os passatempos, os interesses são também fruto de relacionamentos com professores, amigos ou simples companheiros de curiosidades e interesses comuns.
“Quem és tu?” É bom não esquecer outras relações importantes: como cidadão, como patriota, como crente. Quais são as responsabilidades de um cidadão, de um patriota de um crente? Zenão continua a filosofar. “Poderei afirmar com verdade que sou um cidadão, sou um patriota, sou um crente?”
Um bom cidadão procura cumprir as regras de trânsito: não estaciona em segunda fila, pensando no bem-estar de peões e condutores de veículos; colabora em iniciativas artísticas, culturais ou de beneficência como voluntário; esforça-se por estar bem informado em assuntos da sua responsabilidade; participa em eleições; respeita os costumes do país em que vive.
Um bom patriota deve estar disposto a sacrificar-se pela defesa do seu país, com as suas forças, o seu saber e os seus serviços. Soldados, bombeiros, polícias, juízes, médicos, políticos, jornalistas, professores… são, ou não são patriotas? Serão bons patriotas os políticos corruptos, os polícias cúmplices de roubos, os jornalistas que manipulam as notícias, os médicos ou enfermeiros que praticam abortos, a eutanásia ou mudanças de sexo?
Um bom crente deve ser coerente. Que sentido tem dizer “sou um crente não praticante”? É como dizer “sou um ciclista, que não pedala”. Ou “sou um pianista que não toca nas teclas”… É natural que um crente coerente manifeste a sua fé em cada momento da sua vida: rezando e obedecendo a Deus, frequentando os locais do seu culto, estudando a sua história e ensinamentos, mas também respeitando pessoas com outras crenças, ideias e tradições.
“Quem és tu?” A época em que se vive também influencia o nosso “ser, ou não ser”. Ainda não somos astronautas, mas já começamos a sê-lo. Já somos consumados automobilistas, leitores, engenheiros e… Quanto aprendemos com os nossos antepassados! É graças à inteligência que cada geração recebe, desenvolve e transmite conhecimentos. Todos somos semelhantes a filhos que, às cavalitas dos pais, enxergam mais longe; não sendo mais altos ficamos acima suportados por eles.
Termino com o título deste artigo: Meu amigo, “Quem és tu?”
Isabel Vasco Costa