Quem é o Papa?

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

O regresso do Papa Francisco à Ásia coloca várias questões de texto e contexto, face à tradicional dificuldade de entender o papel desempenhado pelo líder da Igreja Católica como referência espiritual e não apenas como agente político. A preguiça não é boa conselheira e limitar uma viagem desta dimensão à utilização ou não de uma palavra, por mais importante que seja, é bastante reveladora.

Ver Aung San Suu Kyi recordar a sua educação católica e pedir uma bênção especial ao Papa ou ver o presidente do Bangladesh, Abdul Hamid, agradecer emocionado pela atenção que Francisco tem dedicado à crise dos Rohingya parece entrar em choque com algumas das coisas que são ditas com o nosso filtro “ocidentalizado”. Há qualquer coisa que não bate certo e, na dúvida, prefiro ouvir quem está no terreno.

Francisco decidiu visitar dois países em que os católicos são minoria. Pequena. Muito pequena. Milhares de quilómetros e muitas horas de voo para um destino mais humano do que geográfico, com atenção aos direitos e à dignidade de todos.

Esperança, diálogo e paz são as “armas” do Papa, numa viagem escolhida a dedo, com o seu cunho pessoal, e muito desafiante. Procurando trazer para o mesmo lado os responsáveis religiosos e políticos, e também, por força da sua enorme presença mediática, histórias de vida que têm ficado esquecidas ao longo dos últimos meses e que muitos só conseguem descobrir agora.

Mianmar e Bangladesh sublinham ainda a ligação da presença portuguesa no Oriente, nos inícios da evangelização destes territórios. Cinco séculos de uma história que também muitas vezes é desconhecida, alheia a nós mesmos, enquanto outros, ao longe, cultivam ciosamente uma memória que por cá estranhamente se renega.

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