Que diálogo com o Islão?

Os desafios lançados por esta nova “crise” entre o Ocidente e o Islão têm sido analisados desde vários prismas, sempre com a preocupação de perceber qual será o futuro do diálogo com os muçulmanos. Dissociar violência e religião era o principal objectivo do Papa, se bem que isso não tenha sido o ponto central de muitos olhares sobre a sua passagem pela Universidade que tanto ama. As leituras precipitadas de três linhas da sua intervenção não servem para eliminar a importância da figura de Bento XVI para o diálogo entre culturas, conciliando fé e razão. Bento XVI deixou claro, desde muito cedo, qual era o caminho que queria percorrer, nunca se coibindo de condenar a violência em nome de Deus e da Religião. Em Agosto de 2005, na sua viagem a Colónia (Alemanha), confrontou os representantes islâmicos com o fenómeno do terrorismo, afirmando que “os programadores dos atentados demonstram que desejam envenenar os nossos relacionamentos e destruir a confiança, servindo-se de todos os meios, até mesmo da religião, para se oporem a todos os esforços de convivência pacífica e tranquila”. “Bem sei que muitos de vós negastes com determinação, também publicamente, em particular qualquer vínculo da vossa fé com o terrorismo, e que já o condenastes com clareza. Estou-vos grato por isto, uma vez que tal comportamento contribui para o clima de confiança de que temos necessidade”, explicou então. Em Regensburg, o Papa quis abrir caminho para um diálogo “franco e sincero”, entre culturas e religiões, que tem como condição fundamental o debate aberto daquilo que une e, também, daquilo que distingue, para se poder reconhecer totalmente o interlocutor. Reacções de grupos como a Al Qaeda não podem fazer o Papa recuar: eles não procuram o diálogo, mas uma qualquer justificação para a sua “guerra santa” contra os “infiéis” e os “cruzados”. Para um diálogo de dimensão verdadeiramente universal, não é possível sentir-se limitado por atitudes destas. A nova diplomacia vaticana vinha insistindo, de há uns meses a esta parte, na necessidade de os líderes islâmicos construírem um clima propício à liberdade (também religiosa) nos seus países e serem mais explícitos na condenação do terrorismo e do fundamentalismo de algumas facções do Islão. A Santa Sé mostrou-se preocupada, várias vezes, com a diminuição progressiva de cristãos em países de maioria islâmica, lamentando que os mesmos não vejam os seus direitos devidamente protegidos. No documento final da última sessão plenária do Conselho Pontifício para os Migrantes e Itinerantes (CPMI), divulgado em Junho, ficava claro que é fundamental defender os direitos dos cristãos que se encontram nos países islâmicos, promovendo o conceito de “reciprocidade”. Este documento já permitia vislumbrar a estratégia em relação aos países de maioria muçulmana, reafirmando a necessidade de uma “distinção entre a esfera civil e a religiosa”.

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Agência ECCLESIA

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