Percurso inspirado na «Mística do Arado» propõe uma «santa rebeldia», que leve mensagem cristã às periferias da humanidade
Lisboa, 09 mar 2024 (Ecclesia) – O padre Adelino Ascenso, superior geral dos Missionários da Boa Nova, afirmou que a vida dos cristãos implica “risco” e uma “santa rebeldia”, que leve a mensagem de Jesus às “periferias” da humanidade.
“Há sempre um risco, mas nós temos de desenvolver a espiritualidade do risco. Se nós não arriscarmos, acabamos por definhar. Repito, nós temos de arriscar. A saída é sempre um risco, nós temos de arriscar sair”, referiu o sacerdote, no quarto encontro do percurso quaresmal, inspirado pela sua obra ‘A Mística do Arado’.
O entrevistado admite que, nessa opção, fica mais visível a própria “fragilidade”, convidando todos a superar o “medo”.
“Se estamos acomodados no nosso sofá, temos dificuldade em sair dali. É necessário romper algo, que são essas fronteiras que muitas vezes nos impomos a nós mesmos. Se rompermos essas fronteiras, se formos realmente ao encontro das periferias, vemos que, afinal, os nossos horizontes acabam por transformar-se num leque bastante mais abrangente”, sustenta.
“Nós não podemos acomodar-nos, a Igreja não poderá acomodar-se. Em primeiro lugar, a Igreja tem de ir para as periferias”, acrescenta.
Só pela experiência concluímos que é nas periferias que nós experimentamos a verdadeira Igreja viva”.
O padre Adelino Ascenso retoma a ideia de “peregrinação” na vida interior, como caminho para Deus.
“As pessoas de fé devem ser buscadoras, não podem ficar, não devem ficar acomodadas na sua fé, que lhes foi dada, um dom que lhes foi transmitido”, aponta.
O também presidente da Conferência dos Institutos Religiosos d Portugal (CIRP) explica o conceito de “santa rebeldia” a partir da ideia de uma fé que “obriga a caminha, a procurar”.
“A rebeldia, esta santa rebeldia, é uma busca, não significa que nós andemos por aí a partir montras – porque isso não é propriamente rebeldia, é revolta. Essa santa rebeldia é fundamental para uma fé que busca sempre algo que intui, mas não está ali, que está sempre além do nosso caminhar”, observa.
O entrevistado defende a necessidade de fazer um caminho ao encontro das “periferias existenciais”, ou seja, “aqueles que são martirizados pela pobreza, ou pelas guerras, ou pelas perseguições”, para que a Igreja possa “caminhar com”, ao lado de todos.
“Não é caminhar sem, é caminhar com. Não é ensinar de cima de um pedestal, mas imiscuir-se nas pessoas, nas tais periferias, e caminhar com elas e aprenderem uns com os outros”, declara.
11 anos após a eleição de Francisco (13 de março de 2013), a conversa recorda a primeira viagem que o Papa fez, à ilha italiana de Lampedusa, onde denunciou a “globalização da indiferença”.
“Corremos esse perigo de nos tornarmos insensíveis”, alerta o sacerdote, para quem “olhos secos” são sinónimo de “coração seco”.
“E isso é grave, porque os nossos olhos precisam de lágrimas”, conclui.
O padre Adelino Ascenso, autor da obra “A Mística do Arado”, propõe um itinerário de preparação para a Páscoa para acompanhar online e no programa no programa ECCLESIA, na Antena 1 (06h00), a cada domingo da Quaresma.
A conversa, divulgada semanalmente nos canais da Agência ECCLESIA nas redes sociais, conclui-se com uma recomendação para a preparação da Páscoa 2024: “Que nós partamos, que caminhemos, que arrisquemos, que nunca coloquemos de parte a espiritualidade da sobriedade e do risco”.
OC