Jesuíta vai percorrer até ao Sábado Santo as 14 estações que se celebraram na JMJ 2023, a partir de desenhos da sua autoria
Lisboa, 23 fev 2024 (Ecclesia) – O padre Nuno Branco, jesuíta, lamentou a tentação de se ser “religiosamente correto na relação com Deus”, pedindo que, no caminho da Via-Sacra, se reconheça a condição de ser humano, assumindo os momentos de dificuldade e sofrimento.
“Na relação com Deus habituámo-nos a rituais e a cerimónias, e isto às vezes pode tornar que a nossa relação com Ele cerimoniosa, no sentido que não digo, não falo, não verbalizo, não grito. E às tantas habituámo-nos a não falar disto como se isto nos diminuísse, como se a cruz nos diminuísse, quase como se carregar a cruz pelo seu peso, talvez me faça sentir diminuído”, explicou à Agência ECCLESIA.
O sacerdote indicou que assumir a Via-Sacra, na vida de cada pessoa, é um convite ao reconhecimento da “condição de criatura”, assumindo-se “vulnerável e menos bonito”.
O padre Nuno Branco vai percorrer até ao Sábado Santo as 14 estações, o caminho que representa os últimos passos de Jesus até à morte, a partir dos desenhos da sua autoria que acompanharam a Via-Sacra da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.
O jesuíta fala num “ato de reconciliação” com a vida.
“Quando nos deparamos com a nossa cruz, ou com a cruz do mundo, ou com a cruz da vida, o primeiro desejo é encontrar uma lógica para aquilo. Porquê que isto me aconteceu? Uma lógica, um sentido, uma razão, uma causa, uma origem, um argumento. Ou seja, o mal parece que pede de nós a procura de um argumento. A Via sacra vem esclarecer e iluminar aquilo que para nós pode parecer como pergunta. Eu acho que é uma pergunta legítima, mas que não encontra resposta argumentativa. O que eu estou a fazer agora, não compreendeis, ou seja, ficamos na não compreensão mas que a contemplação da vida de Jesus vai esclarecendo”, explica.
Referindo-se à primeira estação, o artista reconhece o grande desafio e dificuldade de desenhar alguém “condenado à morte” e como o seu significado pode ser representado.
“O desenho de alguém que sabe que vai morrer e a experiência do contacto direto com o absoluto, ou seja, o que é que isto também diz de nós, ou diz para nós, do modo como o Senhor inicia a Via-sacra. Então, aparece a figura máxima do ‘Ecce homo’, eis o homem. É ali que nós procuramos encontrar respostas para a nossa vida, ou seja, num homem condenado”, indica.
“Diante do sofrimento, podemos criar uma blindagem, uma linha da nossa vida vincada, quase de oposição, de contraste e de negação. Para começar bem a Via-sacra, é seguir esta porta de entrada que Jesus nos recomenda, ou que recomendou a Pedro, ‘aquilo que eu vou fazer tu não entendes por agora’, mas há-de compreendê-lo depois. Há aqui um agora de não entendimento, mas depois também há um sinal de esperança, que tudo isto está a ganhar forma e sentido, que cada um de nós vai encontrar para as suas dores e mortes”, sugere.
As conversas são apresentadas online, nos canais da Agência ECCLESIA, e no programa da Igreja católica na Antena 1 da rádio pública, a cada sábado de Quaresma, pelas 06h00.
LS
O projeto ‘Geração 2023’, que em cada dia 23 do mês retoma experiências vividas na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, pelos jovens participantes, percorre hoje a Via-Sacra do dia 4 de agosto.
Os testemunhos foram recolhidos durante a celebração promovida pelo Patriarcado de Lisboa na primeira sexta-feira da Quaresma, na Alameda D. Afonso Henriques. |