Quaresma: Pandemia «traz grande provocação» de questionar sobre o que é fundamental – padre Alexandre Palma (c/vídeo)

Professor da Faculdade de Teologia destaca necessidade de «relativizar» coisas que se consideravam essenciais

Lisboa, 17 fev 2021 (Ecclesia) – O padre Alexandre Palma, professor da Faculdade de Teologia da UCP, disse que a pandemia pode ser um tempo de “relativizar muitas coisas”, que se consideravam “essenciais”, no contexto da celebração das Cinzas que marca o início da Quaresma.

“No fundo este arco pandémico que nos abraçou, ou que nos prendeu, traz-nos numa grande provocação, que a vida nos trouxe, para nos questionarmos outra vez sobre as coisas fundamentais”, explicou o sacerdote do Patriarcado de Lisboa, em entrevista à Agência ECCLESIA, emitida hoje na RTP 2.

Segundo o docente universitário, na pandemia também é possível redescobrir muitas coisas “essenciais”.

“Mesmo este contexto das Cinzas, se por um lado é um apelo muito individualizado – tu ser humano em concerto, arrepende-te, converte-te, reconcilia-te -, ao mesmo tempo tem um sentido comunitário. Talvez este contexto pandémico nos tenha também provocado a redescobrirmos que somos seres comunitários”, desenvolveu o professor da Unidade Católica Portuguesa (UCP).

A Igreja Católica começa hoje a viver o tempo da Quaresma, com a celebração das Cinzas, que, acrescenta o padre Alexandre Palma, “é um rito plenamente pessoal”, inclui individuo, mas que inclui também a comunidade que celebra.

“O rito supõe uma procissão, é um povo que de alguma maneira também entra numa dinâmica de conversão, numa dinâmica de reconciliação”, exemplifica.

O sacerdote explica que a Liturgia fala sempre a “linguagem dos símbolos” e as cinzas, que são um “grande símbolo” no início da preparação para a Páscoa, com força simbólica que remete para a “própria condição humana e para a debilidade”.

“A ideia de que nos somos pó e ao pó regressaremos, coloca esta dupla dimensão: Nós vimos de alguma maneira do pó, mesmo que às vezes nos esqueçamos, e de alguma maneira seremos pó, a morte será o desfazer de alguma coisa que toca a nossa vida”, acrescentou.

O professor da Faculdade de Teologia refere que o simbolismo ritual das cinzas “não é substitutivo da consciência” que se possa ter, mais ou menos, da própria fragilidade, mas é um lugar “quase de integrar essa fragilidade no contexto celebrativo, diante de Deus e no corpo eclesial”.

A Quaresma é um tempo de 40 dias que se iniciou hoje, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência como preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário cristão (4 de abril, em 2021).

No contexto da pandemia de Covid-19, o padre Alexandre Palma compara as Cinzas com a vacina, porque as pessoas são “inoculadas com o agente agressivo”, que gera os anticorpos, as resistências orgânicas, para “seguir por diante”.

“Sermos inoculados com a consciência de que somos terra, de que somos húmus, humildes, de que precisamos de conversão, é claramente como na vacina o que nos permitirá seguir por diante, até à Páscoa”, acrescentou.

HM/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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