Quaresma: Padre português pregou ao Papa e à Cúria Romana sobre o desafio do «consumismo como critério de felicidade»

Sacerdote e poeta José Tolentino Mendonça está a orientar o retiro quaresmal deste ano em Roma

Foto: Lusa

Ariccia, Roma, 19 fev 2018 (Ecclesia) – O padre português José Tolentino Mendonça, que orienta o retiro de Quaresma do Papa e da Cúria Romana, alertou hoje para o perigo de uma sociedade que faz do consumismo a solução para a realização humana, tanto material como espiritual.

No início do segundo dia de meditações, o sacerdote e poeta, escolhido para orientar a reflexão quaresmal deste ano em Roma, realçou a “sede” do “essencial”, de “relações, de aceitação, de amor” que está presente em todas as pessoas, e que nenhuma “pílula pode mecanicamente resolver “.

De acordo com aquele responsável, quando a sociedade de hoje “impõe o consumismo como critério de felicidade humana”, está a “transformar o desejo em armadilha”, também no campo “espiritual”,

“Fala-se muito contra o consumismo dos centros comerciais, mas não nos esqueçamos que também existe consumismo na vida espiritual”, frisou o atual vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa.

Os exercícios espirituais de Francisco e dos colaboradores da Cúria Romana, de preparação para a Páscoa deste ano, estão a decorrer na localidade de Ariccia, em Roma.

Nesta segunda-feira, o padre José Tolentino Mendonça propôs aos participantes uma pregação sobre “a ciência da sede”.

O sacerdote português apontou para a “sede insatisfeita” que atinge muitas pessoas, numa cultura que faz depender o sucesso social do número de bens materiais que cada um possui.

Apenas para descobrir que cada “objeto” conseguido não sacia a busca de felicidade, antes aumenta o “vazio” interior.

Neste contexto, o padre José Tolentino Mendonça destacou a necessidade de cada pessoa aprender a escutar a sua sede interior, que é expressão “das mãos amorosas de Deus, que permanente procura formas novas para anunciar a vida”.

“Esta sede está connosco desde a infância, acompanha os nossos anos de formação e irrompe dos mais variados modos, durante a nossa vida adulta (…) Será que deixamos que ela nos molde em ordem à verdadeira consciência, de nós e de Deus?”, perguntou.

O sacerdote português lembrou que Jesus Cristo está no meio da humanidade com um convite permanente a acolher “as dimensões mais profundas da existência” humana, tantas vezes silenciadas porque “são dolorosas”, porque nos mostram os nossos “limites”.

A Quaresma é tanbém um convite a cada homem e mulher para que saiba “ir ao encontro da sede que tem em si”, sustentou.

O tradicional retiro de Quaresma do Papa e da Cúria Romana decorre na Casa do Divino Mestre, dos religiosos paulistas, em Ariccia, nos arredores de Roma, com 10 meditações do padre e poeta madeirense José Tolentino Mendonça.

Até sexta-feira, dia da conclusão dos exercícios espirituais, ainda vão ser abordados os seguintes temas: “percebi que estava sedento”, “esta sede de nada”, “a sede de Jesus”, “as lágrimas contam uma sede”, “beber da própria sede”, “as formas do desejo”, “ouvir a sede das periferias”, e “a bem-aventurança da sede”.

Durante o período de retiro estão suspensas todas as audiências do Papa, incluindo a audiência geral de quarta-feira.

JCP

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Agência ECCLESIA

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