Jesuíta revisita desenhos da sua autoria para a Via-Sacra da JMJ Lisboa 2023 e apresenta-a como um caminho de «encontros»
Lisboa, 15 mar 2024 (Ecclesia) – O padre Nuno Branco disse que nas quedas de Jesus “todos cabem”, confirmando que “na terceira queda”, que na tradição da Via-sacra acontece na 9ª estação, mostra que “nada na vida é irremediável e irreversível”.
“Sobretudo aqueles que já não damos nada por eles. É o protótipo da indignidade – eu não sou digno. Nesta terceira queda vêm à salvação os indignos, aqueles que em última instância não têm sinal nenhum de crédito. Acho que há vidas de pessoas, ou fases de vida, em que as coisas nos parecem irremediáveis e irreversíveis. E acho que a terceira queda dá voz a que nada na nossa vida é irremediável e irreversível”, enfatiza o jesuíta à Agência ECCLESIA.
O autor dos desenhos da Via-Sacra da JMJ Lisboa 2023 reconhece que mostrar a vulnerabilidade é um ato de amor para erguer o outro.
“Quando eu me mostro, quando mostro que caí e que percebo o lugar da queda, isso é que dá confiança. A queda de Jesus, ou as quedas de Jesus, vêm-nos dizer que eu, para levantar alguém, tenho que também estar ferido, que são as minhas feridas que levantam as feridas dos outros”, explica.
Segundo a tradição, a Via-sacra recorda os últimos passos da vida de Jesus antes da sua morte, e a 7ª e a 9ª estação, já após a primeira queda enunciada na 3ª estação, faz eclodir uma pergunta: «Será que Jesus é confiável?»
O jesuíta afirma a importância de cada crente fazer essa pergunta, sem temer ser uma questão “escandalosa, por parte de alguém que se afirma crente”, porque a resposta, indica, vai conduzir a uma “revolução” na imagem que se tem de Deus.
“Isso pode gerar uma crise, e gera, mas vai gerar uma crise altamente libertadora, que é Deus, a cada passo, vai-se revelando, vai-se destapando, vai-se descobrindo, até encontrarmos a verdade e a nossa verdade. A queda traz uma nova leitura sobre o viver erguido, o recomeçar”, indica.
O padre Nuno Branco convida ainda a não ficar preso na queda – “nós não somos só queda”: “Eu diria que o que mais nos ajuda é não olharmos para nós próprios, é tirar o olhar de nós para não ficarmos enredados na nossa queda; pôr o olhar no Senhor e sobretudo deixar-mo nos levantar”.
“O chão é o lugar da queda mas também do recomeço”, sublinha.
Convidado a olhar para a 8ª estação – «Jesus encontra as mulheres de Jerusalém» – o padre Nuno Branco reconhece que a Via-Sacra é um caminho feito de encontros.
“Jesus poderia ter feito o caminho, com todos a assistir de perto ou de longe, mas a Via Sacra vai assinalando vários encontros, neste caso com as mulheres. E parece-me que nesta estação Jesus também se deixa ver, ou seja, não é só Ele que é visto e encontrado, mas também que encontra as mulheres. Parece-me que chave de leitura desta estação é não olhar o mundo a partir da mágoa. O lamento é para ser atravessado e não contornado ou recusado”, sugere.
O jesuíta convida ainda a não ficarmos no tempo de Quaresma mas a caminhar para a certeza do que vem depois: “Ficamos pela Quaresma, quando esquecemos que o motor da Quaresma é a alegria. E de alguma forma também este convite que Jesus diz – ‘não chorem por mim, chorem por vocês e pelos vossos filhos’ – convida a olhar o mundo, os encontros e as alegrias que nele acontecem”.
O percurso da Via-Sacra, com o padre Nuno Branco, é apresentado online, nos canais da Agência ECCLESIA, e no programa da Igreja Católica na Antena 1 da rádio pública, a cada sábado de Quaresma, pelas 06h00.
LS