Cultura japonesa apresentada pelo padre Adelino Ascenso aos colaboradores da Conferência Episcopal Portuguesa
Lisboa, 22 mar 2018 (Ecclesia) – O superior geral da Sociedade Missionária da Boa Nova apresentou hoje aos colaboradores da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) os valores da harmonia e do silêncio na cultura japonesa como propostas de preparar a Páscoa.
O padre Adelino Ascendo referiu no encontro de Quaresma dos serviços da CEP que a “harmonia” é um “conceito tão importante” para os orientais que foi incluído na primeira constituição do Japão, no ano 604.
“A cultura e a vida social estão centradas neste conceito de harmonia com os outros, tanto os vivos como os mortos; a harmonia com os deuses e com a natureza também é central nesta conceção da vida”, acrescentou.
O missionário realçou que é “crucial que o cristianismo se torne mais sensível à ideia de harmonia e coletivismo no Japão”, afinal o cristianismo ocidental “é fortemente individualista”.
Às pessoas que trabalham em diversos setores da CEP, como a justiça e a paz, a área social e a educação, o desenvolvimento e as migrações, o padre Adelino Ascenso comentou que a cultura japonesa pode, por exemplo, na harmonia ajudar a “sair para valorizar o conjunto, o grupo”.
“Vivemos num mundo autorreferencial, harmonia de grupos é algo que pode estimular e aprender”, observou.
“Silêncio” foi a segunda palavra em destaque na reflexão da Quaresma para os trabalhadores da CEP, mais propriamente a sua “beleza”, afinal, “talvez em nenhuma outra nação” exista uma palavra “tão relevante”.
“Na cultura do silêncio, ao indivíduo é requerida a capacidade de preservar pensamentos no interior por causa do bem-estar dos outros, o que não é hipocrisia, mas por causa da harmonia”, explicou o superior geral da Sociedade Missionária da Boa Nova.
Contudo, o sacerdote também realçou que a harmonia e a beleza do silêncio estão na cultura nipónica e “correm no sangue do povo mas na vida do dia a dia nem sempre se verifica”.
“No estrato social não existe harmonia, o Japão também tem aspetos muitos feios”, afirmou, dando como exemplo os sem-abrigo que em Osaka são 20 mil e os japoneses “têm vergonha”, se um turista tentar “tirar fotos pode ter problemas”.
O orador explicou ainda a cerimónia do chá que relacionou com a Eucaristia, uma vez que o ambiente dessa cerimónia e a celebração da Missa são “muito idênticos”.
Existe a Palavra no diálogo entre um anfitrião e o hospede, que só pode ultrapassar mais de duas horas duplas se a conversa for sobre Buda e a doutrina, ou seja, prolonga-se num “sentido profundo, de mística”.
No momento em que em Roma está a decorrer o pré-sínodo, com cerca de 315 participantes dos cinco continentes, o padre Adelino Ascenso recordou que os jovens estão “bastante afastados” destes elementos culturais japoneses, como a “cerimónia do chá que é entediante”.
“Os jovens manifestam desinteresse mas se caminharmos nessa direção há de chegar ponto que lhe toca, está no sangue”, afirmou, alertando para o risco de tratar os jovens de uma “maneira soft” quando “estão sedentos de profundidade. percebam elementos estruturantes da cultura”.
O missionário da Boa Nova no início dos presentes a uma viagem pelo Japão, um “mundo enigmático, cativante, árduo, repleto de contrastes e contradições” constituído por um povo “gentil, educado” e “culturalmente bem-formado”, onde quase “não existe analfabetismo”.
CB/PR