Catarina Martins lembra drama da guerra num país que «não é falado nas notícias»
Lisboa, 19 fev 2016 (Ecclesia) – A campanha de Quaresma deste ano da Fundação Ajuda a Igreja que Sofre (AIS) vai reverter a favor do Sudão do Sul, atualmente fustigado por uma guerra civil que já provocou muitos mortos e milhões de refugiados.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, que coordena o secretariado da AIS em Portugal, destaca um conflito que “não é falado nas notícias” mas que tem tido repercussões “dramáticas”.
Segundo Catarina Martins, os últimos números apontam para a existência de “mais de dois milhões de deslocados e refugiados” devido a um confronto que começou em 2013 entre os líderes das duas principais etnias do país, os Dinka e os Nuer.
Recorde-se que o Sudão do Sul é o país mais recente do mundo, tendo sido formado em 2011 na sequência de um referendo que repartiu o Sudão original em duas partes.
Na altura, esta nação saia assim de uma guerra civil com mais de 20 anos, que envolvia muçulmanos e cristãos.
Com a nova disposição geográfica, o Sudão ficou com maioria muçulmana e o Sudão do Sul com a maioria cristã, conquistando a sua independência.
“Todos pensávamos que seria o início de um novo país, poderiam finalmente os sudaneses viver num clima de paz depois de anos e anos de guerra e foi exatamente o oposto”, lamenta Catarina Martins.
Como face mais visível da questão temos dois líderes políticos com diferentes etnias, o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, de etnia Dinka, e o vice-presidente da nação, Riek Mashar, de etnia Nuer.
Mas a base do diferendo não será apenas tribal mas política e económica, pois está em causa um país que detém grandes reservas de petróleo.
Enquanto as partes não chegam a um acordo e a um cessar-fogo definitivo, o dia-a-dia do povo vai sendo marcado pelo “sofrimento”, frisa a diretora da AIS em Portugal.
“As necessidades são tantas que não podemos ficar indiferentes”, exorta aquela responsável, lembrando “todas as pessoas, milhares e milhares de pessoas” que têm sido “arrastadas” para a guerra ou que são obrigadas a viver em “fuga constante”.
“Estamos juntos destas pessoas através da Igreja, das congregações, dos padres e irmãs que estão no terreno. E queremos apelar a todos os portugueses, aos nossos amigos e benfeitores, para nos ajudarem na concretização desta ajuda concreta”, sustenta Catarina Martins.
Além da ajuda mais básica às vítimas, outra das grandes preocupações da Fundação AIS, organização ligada ao Vaticano, é a situação das muitas crianças e jovens que, por causa do conflito, são obrigadas a viver em campos de refugiados, sem o mínimo de condições.
“As últimas estatísticas da ONU referem que o Sudão do Sul é o país do mundo com a menor taxa de frequência escolar”, realça Catarina Martins, adiantando que pelo menos 800 escolas foram destruídas desde 2013, um pouco por todo o país africano.
“É preciso ajudar e a Igreja está muito preocupada com esta situação. Tem várias escolas nos campos de refugiados para que estas crianças, que na sua maioria nunca viveram outras situações que não de guerra, possam ter educação, formação, para mais tarde, quando forem mais crescidas, possam ajudar o seu país”, complementa.
HM/JCP