Gestos como a imposição das cinzas «não dizem nada» sem uma autêntica «configuração com Cristo», alerta o padre José Manuel Pereira de Almeida
Lisboa, 04 mar 2014 (Ecclesia) – O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Social (SNPS) sublinha a importância da Quaresma, que vai ter início esta Quarta-feira de Cinzas, enquanto caminho propício de “configuração com Cristo”, em ordem a “uma vida nova”.
Numa entrevista publicada na edição mais recente do Semanário ECCLESIA, o padre José Manuel Pereira de Almeida realça que “tudo gira à volta da ressurreição de Jesus”, que veio “romper” com a História e deixar um convite permanente à “conversão”.
“O reino está próximo, o reino aproximou-se em Jesus, esse reino novo de fraternidade, de justiça, de verdade, então há que mudar de vida”, aponta o sacerdote.
Proposto durante um período de 40 dias, para preparar a Páscoa, “festa central” dos cristãos, o tempo quaresmal é caraterizado sobretudo por três sinais ou desafios: “a oração, o jejum e a penitência”.
Três sinais que têm subjacente uma pedagogia específica: é na “sobriedade no dia-a-dia” e no dar “atenção ao mais importante”, seja à “relação com Deus” seja com o próximo que está a chave da mudança.
“Os ritos exteriores”, como a imposição das cinzas, “só por si não dizem nada”, tal como “jejuar” para “depois amealhar as poupanças daquilo que não se gastou com o alimento desse dia”, alerta o padre José Manuel Pereira de Almeida, que deixa uma sugestão relativamente às dimensões do jejum e da penitência.
Para aquele responsável, uma boa forma de começar a Quaresma seria “canalizar para as paróquias, para o grupo de ação social da paróquia, à parte da renúncia quaresmal, a renúncia de Quarta-feira de Cinzas e de Sexta-feira Santa, para ser dada para aqueles que de facto necessitam, os pobres”.
O Papa Francisco escreveu dedicou uma mensagem ao tempo da Quaresma, intitulada “[Cristo] Fez-se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza”, em que chama a atenção para a necessidade de atender às misérias da humanidade.
Tal como Jesus se aproximou dos homens, como “o Bom Samaritano” do Evangelho que atendeu “o homem abandonado, meio morto à beira da estrada”, os homens, a começar pelos cristãos, também são desafiados a “fazer o mesmo tipo de movimento”, aproximando-se “daqueles que estão à margem”, que mais “precisam”, frisa o diretor do SNPS.
O padre José Manuel Pereira de Almeida destaca o “escândalo da fome” que marca a sociedade e que “é claramente uma estrutura de pecado existente no mundo, no sistema atual”.
Neste particular, a Quaresma é também “um tempo oportuno para perceber que se de facto se leva a sério o destino universal dos bens, ou seja, tudo o que está por trás da Teologia da Criação”.
Na sua mensagem, o Papa lembra que “a verdadeira pobreza dói” e alerta contra a “esmola que não custa nem dói”.
“Quando damos o que nos sobeja, ao contrário da viúva pobre do Evangelho, de facto damos as sobras. Ora, não é isso que constrói a comunhão a que somos chamados”, reforça o padre José Manuel Pereira de Almeida.
PR/JCP