Quaresma: Comissão Justiça e Paz denuncia «atração pelo abismo bélico» e apela ao «investimento na cooperação e na solidariedade»

Reflexão para o tempo de preparação para a Páscoa aponta para a «criação de redes de proximidade» contra o «farisaísmo genérico», o «cinismo» e a «solidão»

Lisboa, 6 mar 2025 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) afirma que a Quaresma é um tempo para arriscar “a proximidade como caminho de esperança”, reagindo ao “farisaísmo genérico” ou ao “desnorte com uma educação ilusória”, e denuncia a “atração pelo abismo bélico”.

“O impensável parece poder acontecer num mundo que, tendo já experimentado tantas vezes a loucura da guerra, não é capaz de romper a atração pelo abismo bélico”, alerta o documento na reflexão para a Quaresma 2025.

A CNJP refere que é possível a “tentação a baixar os braços, a sentir a derrota, a não abraçar a dor com nome próprio, a não saborear as lágrimas amargas da solidão ou do desespero”, recorrendo a equipamentos tecnológicos que “permitem chegar a tantos” e, ao mesmo tempo, “exacerbam” o individualismo.

“Apesar de um céu cinzento, podemos almejar um arco-íris de paz, de solidariedade e fraternidade.Arrisquemos a proximidade como caminho de esperança”, afirma o organismo da Conferência Episcopal Portuguesa.

A mudança só é possível através da criação de redes de proximidade e de uma paz que recusa a ambição económica sem escrúpulos. De uma paz que se constrói com investimento na cooperação e na solidariedade”.

A CNJP alerta para a existência de “um farisaísmo genérico”, agarrado “à lei e aos protocolos em vez da pessoa”, de um “cinismo do abandono dos mais velhos e de quem não é produtivo” e da “a solidão das crianças na sua autorreferencialidade, dos adolescentes e dos jovens que não veem perspetivas de futuro, sem experimentarem a felicidade de uma relação de reciprocidade fora dos ecrãs em que vivem agarrados”.

“Vivemos um desnorte com uma educação ilusória onde a aprendizagem se crê isenta de dificuldades e necessidade de esforço; vivemos medrando numa alergia à vida nas suas várias etapas; vivemos indiferentes ou acirrados contra migrantes separados das suas famílias e sujeitos a condições miseráveis, indiferentes ao tráfico humano de mulheres para a prostituição e de crianças vendidas para pedintes aproveitando-se da nossa ‘pena’ por uma infância desvalida”, acrescenta.

Na reflexão para a Quaresma 2025, a CNJP lembra que todas as pessoas têm “a mesma dignidade” e aponta para um “caminho conjunto”.

“Que as nossas casas, as paróquias, os movimentos, os nossos locais de trabalho e lazer sejam lugares de proximidade sem fazer aceção de pessoas (nacionais ou migrantes; ricos ou pobres; sãos ou doentes), e que o toque das nossas mãos seja o de Jesus”, afirma o documento, referindo que é o “antídoto” para vencer “as barreiras e o mal contagioso do individualismo”.

A CNJP apela ao caminho em conjunto “através da proximidade, do serviço, do colocar a toalha à cinta e lavar os pés ao próximo, a começar pelos últimos”.

Esta deve ser ‘a Quaresma’, o tempo privilegiado para reavaliarmos a nossa vida à luz do Evangelho que requer também uma atitude de humildade e reconhecimento de nossas próprias fraquezas e pecados”.

A Comissão Nacional Justiça e Paz propõe que, no tempo da Quaresma, o “caminhar juntos” seja o “critério” para aferir a “fidelidade ao projeto de Deus para a humanidade” e o “caminhar juntos na esperança” constitua o “testemunho” do “compromisso com a promoção da justiça e da paz como impulso da novidade da ressurreição”.

A Comissão Nacional Justiça e Paz é um organismo laical da Conferência Episcopal Portuguesa, que tem como finalidade promover e defender a justiça e a paz, à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja; as suas principais funções são o estudo e divulgação da Doutrina Social da Igreja, analisando problemas relativos ao desenvolvimento dos povos, aos direitos humanos, à justiça e à paz segundo o Evangelho.

PR

Partilhar:
Scroll to Top